JEOVÁ NO COMANDO DO MDB

Até o final de fevereiro, Jeová Alencar será o novo presidente do Diretório Municipal do MDB em Teresina. Os menos atentos podem achar besteira, mas o cargo era ocupado pelo deputado Themístocles Filho, presidente da Assembleia Legislativa e um dos maiores fiadores da eleição do atual prefeito, Doutor Pessoa, que é do mesmo partido. Como Themístocles não é conhecido por entregar os cargos que ocupa, é bom ler esta matéria até o final para entender que isso muda todo o eixo da política da capital.

COMO ASSIM?

Vá se perguntando a partir daqui: se o prefeito é do MDB, se foi escolhido pelo próprio Themístocles – que o tirou de do “fundo do poço” de duas derrotas seguidas –, se Doutor Pessoa obteve uma vitória histórica nas últimas eleições, por qual motivo não é a ele que Themístocles vai entregar o diretório municipal do partido?

Jeová com o MDB: ele já comanda a base aliada, agora vai comandar o partido do prefeito (foto: Jailson Soares | PoliticaDInamica.com)

A iniciativa de fazer de Jeová presidente da MDB na capital partiu o próprio Themístocles. Mas não acontece sem méritos e motivos: Jeová é hoje o maior líder político do MDB em Teresina, tem fama de ser ponderado em seus posicionamentos, de cumprir acordos políticos e capacidade aglutinar outras lideranças em torno de si.

MERECIMENTO E LEALDADE

Jeová é um político que constrói. De trabalhar por meia diária de pedreiro na infância até se tornar presidente da Câmara Municipal de Teresina pela terceira vez aos 45 anos de idade, a trajetória política de Jeová Alencar não se conta em apenas uma matéria. Mas é possível relembrar a história mais recente num parágrafo.

A habilidade política de não se sobrepor aos aliados e pensar em conjunto tem garantido a Jeová crescer no MDB e na política (foto: Jailson Soares | PoliticaDinamica.com)

Era um assessor parlamentar desconhecido pela maior parte da população até 2011. Candidatou-se a vereador de Teresina em 2012, sendo o 21º eleito com 3.569 votos. Nessa mesma eleição, o atual prefeito, Doutor Pessoa, foi o segundo mais bem votado, com 9.293 votos. Veio, então, a eleição de 2016, quando foi votado por 10.194 eleitores. Em 2020, repetiu o feito de ser o mais votado e superou a marca da eleição anterior: foram 11.062 votos.

Em 2016 ele foi para a eleição na esteira da própria Prefeitura, de quem era aliado. Em 2020, pela oposição, bateu o recorde pessoal e da própria eleição. E se manteve sem vaidades, frisar isso nunca é demais.

É a lealdade política do atual presidente da Câmara Municipal sendo reconhecida pelo presidente da Assembleia. Ao assumir o MDB de Teresina, Jeová, que já tem o comando da base aliada na CMT, vai ter, também, o controle político do partido do prefeito.

CRIADOR DE CRISES

A envergadura política de Doutor Pessoa encolheu. E agora já é possível observar parte da resposta à pergunta que você leu lá em cima. Em eleição, fingir simpatia contribui, ter grupo ajuda e o dinheiro influencia. Mas em política, a do dia-a-dia, é a confiança que vale como moeda corrente.

Pessoa fala muito antes de pensar, Jeová é mais observador: os perfis de ambos foram levados em consideração por Themístocles na hora de decidir entregar ao presidente da CMT o comando do MDB (foto: Jailson Soares | PoliticaDInamica.com)

Themístocles enxerga em Jeová alguém que antecipa crises e as evita. Antes mesmo de assumir o mandato, Pessoa mostrou que inventa crise onde elas não existiam. E ao assumir a Prefeitura, provou ao partido que isso é o melhor que ele faz, desde a incapacidade de montar uma equipe reconhecendo aliados por merecimento até instigar a greve e o caos do transporte público.

PERFIS DIFERENTES

Pessoa e Jeová chegaram ao MDB praticamente juntos, ambos em 2020 pelas mãos de Themístocles. Despertaram a desconfiança de caciques e emedebistas históricos. Pessoa nunca seria prefeito o MDB, enquanto Jeová seria o mais votado (talvez até mais ainda) em qualquer outra sigla. Se mostrou fiel ao partido antes de assinar a filiação. Por outro lado, na primeira visita que fez ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), há uma semana, Doutor Pessoa lhe disse que não tinha problema em deixar a sigla e que acompanharia o presidente para qualquer outra, numa tentativa desesperada de aproximação. 

Só observando: os cabelos de Themístocles Filho não ficaram brancos por ansiedade; o presidente da Alepi tem paciência para mudar o eixo da política (foto: Jailson Soares | politicaDInamica.com)

A conversa teve várias testemunhas e foi reproduzida nos bastidores como mais uma prova de que o prefeito da capital não cumpre em pé o que ele diz que vai fazer sentado.

Por bem menos que os atuais arroubos e desconsiderações recorrentes de Pessoa, o deputado Themístocles rompeu com o ex-prefeito Firmino Filho (PSDB) em 2017 e foi a vários veículos de comunicação dando entrevista atrás de entrevista sobre como as eleições seguintes seriam bem diferentes. 

Desta vez, aos mais atentos e bons entendedores, não foi preciso nem meia palavra de Themístocles: a seguir pelo atual caminho de isolamento, Pessoa é prefeito de um mandato só.

E vai pelar a porca se chegar ao final.

 

Comente aqui