IMPEACHMENT: QUEM GANHA E QUEM PERDE NO PIAUÍ

Se Dilma sofrer o processo de impeachment muita coisa irá mudar no Paiuí e no Brasil (Foto: Divulgação)

por Lídia Brito

Se a Câmara Federal aprovar neste domingo (17) o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, dificilmente o Senado irá rejeitar e a petista deverá perder o cargo. Isso significa que chegará ao fim mais de 12 anos da era PT no Brasil. As mudanças políticas não serão restritas somente à Brasília, mas irão afetar o cenário político de todos os estados e municípios do país.

A queda do império petista significa o desmoronamento de alguns feudos, criados pelos aliados do partido que era o principal detentor do poder no país. Quem esteve ao lado do PT nos últimos anos, agora, terá que se readaptar ao período Temer e aprender a ser oposição ou mudar de lado e convicções. Partindo, claro, do pressuposto que Michel Temer consiga levar o mandato até 2018, mesmo tendo pela frente processos no TSE e possíveis pedidos de impeachment também.

Pela primeira vez Wellington irá ser governador de oposição à Brasília (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)


WELLINGTON SERÁ OPOSIÇÃO

No Piauí, estado governado pelo petista Wellington Dias (PT), as mudanças também serão sentidas. Wellington encontra-se em seu terceiro mandato. Nesses anos em que esteve à frente do Palácio de Karnak, o Governo Federal sempre foi comandado pelo PT. Nos mandatos de Wellington nos anos de 2003 a 2006 e 2007 a 2010, Lula era o presidente. Ao retornar ao comando do Estado em 2014, Dilma foi reeleita.

Wellington teve nestes mandatos o apoio do Governo Federal. Se Dilma cair, nos três anos que ainda restam de governo, o petista será pela primeira vez oposição à Brasília. Ele terá que administrar o Piauí exercendo um papel que não tinha vivido até então. A mudança de posição será um teste para a habilidade política do petista.

Wellington teve o apoio de Lula e depois de Dilma nos mandatos como governador (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

Apesar de ser bom de diálogo, não restam dúvidas que ele não terá a mesma facilidade de trânsito nos ministérios como possuía na administração petista. Mesmo com ele nunca tendo conseguido emplacar grandes obras para o Piauí diretamente no Orçamento da União -- apesar do alinhamento político em nível nacional --, a mudança em Brasília deve provocar dificuldades para o governador.

Há ainda o temor de como o possível governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB) irá tratar o PT e a oposição. Se tiver dificuldades para conseguir recursos e atender aos pedidos dos prefeitos no interior, a reeleição dele em 2018 poderá ser ameaçada.

Nos próximos anos, um candidato alinhado a Michel Temer pode surgir no cenário local e dificultar o projeto político de poder de Wellington Dias. Os partidos do Piauí mais alinhados ao PMDB – como o PSDB – saem em vantagem e líderes adormecidos até então como o ex-prefeito de Teresina, Sílvio Mendes (PSDB), devem analisar uma eventual volta ao cenário político local.

Presidente da Assembleia poderá ser fundamental para Wellington se aproximar de Temer (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)


THEMÍSTOCLES TEM O PODER

Se de um lado o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) enfraquece o Palácio do Karnak, do outro fortalece o presidente da Assembleia Legislativa, Themístocles Filho (PMDB), e de quem estiver ao lado dele. Homem de confiança de Temer, ele será no Piauí um dos políticos mais próximos do presidente. Quem quiser chegar a Temer precisará de uma forcinha de Themístocles.

O PMDB de Themístocles e do ex-ministro, João Henrique Sousa - que é amigo pessoal de Temer – terá de volta o poder da época em que comandava diretamente o Palácio de Karnak. Com isso, a dependência que o governador Wellington Dias tem do presidente da Assembleia será ainda maior.

Hoje a gestão de Wellington precisa de Themístocles para quase tudo quando se trata da relação entre o Executivo e a Assembleia Legislativa. É praticamente impossível W.Dias conseguir aprovar um projeto de interesse do Palácio de Karnak sem ter o apoio do presidente da Assembleia.

Themístocles tem uma grande influência sob os deputados estaduais do estado. A prova disso é que ele já foi reeleito para o cargo por cinco vezes consecutivas e em junho, deve ser reeleito pela sexta vez para seu sétimo mandato consecutivo. Se algum impasse ocorre entre o Executivo e o Legislativo, o presidente é sempre chamado para resolver. E resolve.

Firmino terá o apoio de Themístocles que é aliado de Termer (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)


INFLUÊNCIA NO PALÁCIO DA CIDADE

Na campanha de reeleição do prefeito Firmino Filho (PSDB), ele terá como principal aliado o PMDB de Themístocles. Os dois estarão juntos no mesmo palanque mesmo depois de Firmino ter sido um dos principais articuladores pela derrota do peemedebista na eleição pela presidência da Assembleia.

Firmino fez duras críticas ao deputado que, político experiente que é, logo tratou de deixar o enfrentamento de lado visando uma aliança com o tucano na eleição municipal deste ano. Seguindo o ditado que diz que "político não pode olhar pelo retrovisor", o presidente da Assembleia costurou toda a aliança política com o tucano e ainda indicou o vice na chapa de Firmino.

Caso o prefeito venha a ser reeleito e se forem confirmadas as previsões políticas que apontam que ele irá renunciar para concorrer à vaga de senador em 2018, Themístocles terá na cadeira de prefeito um indicado político, o ex-reitor Luís Júnior, ainda uma incógnita.

Nesse cenário, o presidente da Assembleia teria influência junto a Brasília, um governo do Estado dependente do apoio dele e o PMDB na Prefeitura de Teresina. Sem dúvida ele será, no Piauí, um dos maiores beneficiados com o impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Themístocles indicou o vice de Firmino Filho e terá poder na prefeitura (Foto: Marcos Melo/PoliticaDinamica.com)


FIRMINO PEGA CARONA

O prefeito Firmino Filho também pode ser beneficiado. Ao lado de Themístocles ele terá o apoio de Temer. Isso poderá significar uma reviravolta no cenário eleitoral na capital. O apoio do Palácio do Planalto pode resultar na reeleição de Firmino. Ele terá em seu palanque, além de Themístocles, o presidente da república.

O apoio de Temer poderá ocorrer mesmo depois de Firmino ter declarado diversas vezes ser contrário ao impeachment. O prefeito chegou a defender a convocação de novas eleições presidenciais no país. Mas os grandes líderes políticos se destacam pela facilidade em esquecer as divergências de opiniões. Esse posicionamento contrário a Temer não deve ser problema no futuro.

Firmino Filho poderá ser beneficiado com a troca na presidência (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)


OS REJEITADOS TERÃO VEZ

Se Temer passar a usar a faixa presidencial, lideranças políticas que foram prejudicadas pelos 12 anos de PT no poder poderão buscar espaços para um ressurgimento. No Piauí, quem estiver ao lado do PMDB poderá recuperar espaços perdidos.

Esse seria o caso de lideranças como o ex-governador e presidente do PSB do Estado, Wilson Martins. Ele faz parte do bloco de partidos que apoia a reeleição do prefeito Firmino Filho. Wilson estará no mesmo palanque que o PMDB.

Wilson poderá ter maiores poderes com o fortalecimento de Firmino e da coligação com o PMDB (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

Se Firmino vencer, Wilson terá espaços maiores na Prefeitura de Teresina e em 2018 poderá fazer parte do grupo que será oposição à reeleição de Wellington Dias. Se Temer no poder for ruim para Wellington, o grupo de oposição ao Karnak sairá fortalecido.

Resta saber se Themístocles vai querer ser oposição a Wellington Dias (PT). Antes do avanço do processo de impeachment, a expectativa era que o PMDB oficializasse o apoio ao governo do PT no Piauí logo depois das eleições municipais de outubro e em 2018, Themístocles fosse o vice na chapa de reeleição de Wellington. Isso abriria caminho para no futuro o peemedebista ser governador do Estado.

Outro que também pode ressurgir no cenário local é o ex-prefeito de Teresina, Sílvio Mendes (PSDB). Ele deve ocupar o espaço deixado por Firmino que se recusa em se comportar como oposição de fato ao PT. Sílvio ressurgiria aos poucos fazendo as críticas que Firmino não faz e atacando o governo de Dias. Há quem dê como certo que, seja qual for o resultado do impeachment e das eleições de 2016, Firmino muda de partido em 2017 e poderá se filiar a uma sigla menos antagônica ao PT.

Sílvio Mendes pode voltar ao cenário local e concorrer a governador em 2018

Para justificar a oposição branda que faz ao PT, Firmino diz necessitar de uma boa relação com o Palácio do Karnak para conseguir administrar a capital. Mas se tiver o apoio do PMDB em Brasília, a relação com Wellington poderia ser superada.

Dependendo do acordo entre o PMDB e o PSDB, Silvio Mendes pode ser adversário de Wellington Dias na disputa de 2018.


CIRO: DE ALIADO A ALGOZ

Outro personagem da política local que teve grande ascensão nos 12 anos de governo do PT foi o senador Ciro Nogueira. Nesse período, ele se tornou um dos maiores aliados da presidente Dilma Rousseff (PT). O progressista chegou a ter uma proximidade com a petista maior até mesmo que o governador Wellington Dias.

Ciro deve perder forças com o impeachment da presidente Dilma (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

Ciro era considerado o homem da presidente. Quando se tratava de Piauí, era ele quem anunciava a agenda das visitas dela ao estado. Ele a acompanhava nos principais eventos. Nos bastidores se comentava que essa proximidade gerava ciúmes no governador Wellington Dias, que apesar de ser do PT, nunca foi tão próximo de Dilma assim.

A lua de mel durou somente até a pressão pelo impeachment chegar a níveis praticamente insustentáveis no Congresso Nacional. Na véspera da votação do processo pela Câmara, de aliado, Ciro passou a ser algoz. Ele comunicou à presidente que a bancada do PP na Câmara Federal irá votar contra ela.

Ciro também faz parte do bloco de apoio à reeleição do prefeito Firmino Filho (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)

A versão oficial é que Ciro não teve condições de ir contra o desejo da maioria do partido. Mas no cenário político de Brasília, comenta-se que ele teria tido um encontro com o vice-presidente, Michel Temer, dias antes de oficializar a saída do PP da base. A esposa dele, deputada Iracema Portella (PP) também votará a favor do impeachment.

Se o impeachment se concretizar, assim como Wellington, Ciro terá que conquistar espaços no novo cenário político nacional e local. A força dele dentro do PP vem sendo questionada. Se não conseguir se aproximar do governo de Temer, Ciro corre riscos de perder a presidência do partido. Ele começa a ser visto com desconfiança.

Ciro e Wellington terão que enfrentar novo cenário nacional (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)


NA MIRA DA LAVA JATO

Se não bastasse a provável mudança na política nacional, Ciro ainda é um dos principais alvos das investigações da operação Lava Jato da Polícia Federal. Fontes de Brasília garantem que a Procuradoria-Geral da República já teria concluído o inquérito contra o presidente nacional do PP.

Uma possível prisão do senador começaria a se tornar quase inevitável. O PP é hoje o partido do país com o maior número de parlamentares investigados pela Lava Jato. Ciro é acusado de ter recebido dinheiro de propina que teria sido distribuído para financiar campanhas políticas do partido em todo o país.

O senador nega as acusações. Ele chegou a afirmar que renunciaria ao cargo caso fosse provada qualquer uma das acusações de que ele tivesse participado de escândalos de corrupção no país.

Firmino Filho pode ser beneficiado pelo apoio do PMDB (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)


O IMPEACHMENT AFETA TERESINA?

O impeachment terá impactos nas eleições municipais de Teresina? Os políticos locais se apressam a dizer que não. Dizem que o pleito será apenas em outubro e que a conclusão do processo deve ocorrer antes do final do prazo das convenções, que será no dia 5 de agosto.

Mas há quem aposte o contrário. Se o PT perder forças no estado e o PMDB se fortalecer, por ter o presidente da República, o cenário de Teresina também sofrerá alterações.

A primeira influência poderá ser sobre o desempenho do prefeito Firmino Filho. Por fazer parte da coligação com o PMDB e contar com o apoio de Brasília e do presidente da Assembleia Legislativa, Themístocles Filho, o tucano terá nas mãos a reviravolta que faltava para mudar o resultado das próximas pesquisas eleitorais. A oposição ligada ao PT poderá sofrer alguns prejuízos.

Firmino terá uma carta na manga para se fortalecer caso ocorra um segundo turno. O apoio do PMDB e de Michel Temer pode mudar o cenário pessimista que as primeiras pesquisas de opinião divulgadas mostravam com relação ao tucano. Com isso, o cenário poderá ficar ruim para os adversários de Firmino Filho em Teresina. O apoio do presidente da República pode ser fundamental.

Deputado teme o efeito negativo que o apoio do PT pode causar em uma campanha (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)


QUEM VAI QUERER O APOIO DO PT?

Se já estava ruim para o Partido dos Trabalhadores conseguir o apoio de outras siglas para formar uma coligação em Teresina, o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) poderá dificultar ainda mais essa situação. Sem nenhum nome expressivo para lançar candidatura própria na capital, o partido busca a formação de uma aliança.

O desejo do PT era formar uma coligação com o pré-candidato a prefeito, deputado Dr. Pessoa (PSD), que aparece em primeiros lugares nas pesquisas eleitorais. O problema é que o deputado já andou afirmando a pessoas próximas que não deseja ter a estrela do PT em seus santinhos de campanha. Pessoa afirma que somente de forma informal desejaria ter o apoio petista.

Diante da rejeição de Dr. Pessoa, o PT passou a fortalecer a possibilidade de apoiar a pré-candidatura do jornalista Amadeu Campos (PTB). O petebista vislumbra o apoio do governador Wellington Dias e, para isso, formaria uma aliança com o Partido dos Trabalhadores. “Eu quero o apoio do PT”, afirmou diversas vezes sem nenhum constrangimento.

Amadeu Campos diz desejar ter o apoio do PT na disputa pela prefeitura (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)


CANDIDATOS ANALISAM O PÓS-IMPEACHMENT

E se o governo de Michel Temer fracassar? Com o impeachment sendo dado como certo, em Brasília, essa pergunta também tem sido feita pelos pré-candidatos a prefeito de Teresina. A aposta é que Temer teria no máximo 15 dias para conseguir mostrar a que veio e frear qualquer tentativa do PT de conseguir apoio para a convocação de eleições gerais.

Para isso ocorrer, ele terá que apresentar um pacote drástico de medidas. Temer terá também que garantir a continuidade dos projetos sociais que foram implementados pelo PT no país. Caso contrário, ele também poderá sofrer um impeachment.

Mas se ele não conseguir, a instabilidade política no país deve continuar e os efeitos para Firmino Filho podem ser negativos. O fracasso do governo do peemedebista poderá aumentar a rejeição dos teresinenses à gestão tucana.

Neste cenário, os pré-candidatos Dr. Pessoa (PSD) e Amadeu Campos (PTB) podem obter um espaço ainda maior. A oposição poderia se unir e derrota o tucano ainda no primeiro turno. Uma chapa entre os dois pré-candidatos contrários ao tucano é analisada.

Wellington Dias poderá sair fortalecido se o governo de Temer fracassar (Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com)


SE TEMER FRACASSAR,  PT SAI FORTALECIDO

Um eventual fracasso do governo Temer pode significar o fortalecimento do PT e uma nova reviravolta no cenário local. Neste caso, o governador Wellington Dias (PT) seria a principal voz de oposição ao peemedebista. O pré-candidato a prefeito que estiver ao lado dele se fortalecerá.

O discurso da oposição será mostrar que Firmino se aliou ao lado errado. Em eleições gerais, Lula poderia ressurgir e os candidatos ao lado dele também. Se o PT estiver com Amadeu Campos, ele terá o discurso com maior apelo popular.

O petebista poderá crescer nas pesquisas e quem sabe definir a disputa em um primeiro turno.

As definições do cenário para a eleição deste ano começará a se definir na noite deste domingo. O resultado da votação na Câmara Federal provocará uma reviravolta nos acordos firmados até agora. Antes das convenções de agosto, muita coisa ainda poderá mudar no cenário político do Piauí e de Teresina.

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