Fundac: o “patinho feio” que pode virar “cisne”

Por Willian Tito
Especial para o politicadinamica.com


Em um estado onde tudo corre por baixo, por cima, por dentro e por fora da ponte da política, a Cultura não é diferente. Mas, como não rende muitos votos ou quase nada, é relegada ao posto de “patinho feio” da administração governamental. Ao tempo em que não tem grande ascendência do ponto de vista de dividendos eleitorais, os famosos, queridos e concorridos votos, é incrível como é disputada. Por que uma instituição que tem R$ 1,7 milhão em dívidas, só do ano de 2014, provoca tanto interesse? Não há resposta fácil e direta, mas vamos tentar responder.

Primeiro, pelo começo. Oficialmente, a Fundac – Fundação Cultural do Piauí, está entregue ao PRP – Partido Republicano Progressista, presidido estadualmente por Laécio Borges. Segundo o comandante do partido, no dia 21 de dezembro do ano passado, a convite do governador, foi entregue a pasta para administração do PRP. Borges disse que o governador sugeriu que o cantor e compositor, Francis Lopes, presidisse a Fundação. Laécio concordou e disse que Francis era o nome de consenso dentro da agremiação para o cargo.

Laécio Borges, W.Dias e Francis Lopes

O casamento entre Francis e o seu partido, o PRP, foi breve. Pouco mais de uma semana após o acordo, o cantor teria indicado parentes e amigos para os cargos da Fundac sem consultar o partido. O desconforto dentro da sigla virou notícia e Lopes e Borges se afastaram. Restou ao PRP a indicação de cargos menores e a Assessoria Jurídica do órgão, ao total de quatro. Mas, a parte jurídica foi preterida, restando três supervisões e apenas mais um pequeno cargo, que segundo Laécio, de um salário.

O filet mignon da Fundac ficou com Francis, pelo menos aparentemente. A direção de ação cultural é ocupada por Jacemia Feitosa de Sousa Dantas e a direção administrativa-financeira está sob a batuta de Halysson Carvalho Silva.

Quem é quem?

Jacemia é esposa do cantor e compositor, Marcelo Dantas (depois voltamos a este nome). Formada em administração e técnica em comunicação social pela ComRádio, a titular do DAC era Coordenadora de Processos da Rede Meio Norte. Segundo fontes que solicitaram para não terem seus nomes revelados, a parnaibana Jacemia também representa os interesses do grupo, que trabalhou anteriormente, na Fundac.

Marcelo e Jacemia Dantas

A diretora teve seu nome confirmado na edição do dia 29 do Diário Oficial do Estado, com efeito retroativo para o dia 15 do mesmo mês. Curiosamente, no mesmo dia que o ex-diretor (o status correto é coordenador) do Theatro 4 de Setembro, Antoniel Machado Ribeiro. Depois voltamos a este imbróglio.

Halysson Carvalho Silva, com quem mantive uma longa conversa, mostrou-se bem articulado e já ciente de muitas políticas públicas relativas à pasta. A indicação do diretor para assumir a presidência da Fundac, com a saída de Francis Lopes para Assembleia Legislativa, é contestada pelo PRP, que lançou nota à imprensa repelindo veementemente a indicação.

Carvalho é filiado ao PMDB, partido pelo qual foi candidato a deputado federal no último pleito. Tem ampla bagagem em assessoria, tendo trabalhado anteriormente com Frank Aguiar (que talvez tenho o indicado), João Henrique e Freitas Neto. O diretor, apesar do grande poder de articulação, tem amealhado desafetos nos corredores da Fundação. O estilo que mostra muita segurança acaba assustando os colegas, que confundem com pedância, arrogância e prepotência. Halysson teve sua nomeação confirmada no DOE datado de 3 de março, com efeitos retroativos a 2 de fevereiro.

O diretor administrativo assume no lugar de Gessyka Santiago Lima Moura, que vem a ser a noiva de um sobrinho de Francis, Israel (filho de Zé Lopes, ex-prefeito de Simplício Mendes e irmão de Francis Lopes). Foi um dos pontos que causou a discórdia no PRP. Ela não é exatamente parente, o que motivaria impedimento por nepotismo, mas, está em casa.

Marcelo Dantas, marido de Jacemia, é apresentado por Francis como o seu 9o irmão, dos 8 que são consanguíneos. Mesmo não sendo parente direto, a relação também causa ciumeira no meio político e no PRP. Apesar de Marcelo ter efetivado sua filiação recentemente ao partido.

Persona non grata no PRP

WD conversando com Halysson Carcalho e Francis Lopes

Perguntado pelo o que achava do desconforto no seio do PRP em resistência ao seu nome para assumir o órgão, Halysson respondeu que o cargo é do governador e cabe a ele determinar. A resposta não ajuda muito na busca pela harmonia entre os aliados que lutaram pela eleição do governador Wellington Dias. Aliás, o chefe do executivo estadual tem se mostrado muito generoso com os partidos que estavam no lado oposto na última disputa.

Halysson informou ainda que tanto Laécio como vários membros do PRP já estão bem aquinhoados no Gabinete do Governador. Fomos checar a informação. Realmente não há pessoas lotadas na Secretaria de Governo, mas o presidente Laécio está na Secretaria das Cidades.

Quem é que está no timão?

A Fundac mais parece um grande navio pirata com o preenchimento dos cargos em comissão, com afiliados ou pessoas ligadas aos mais diversos partidos. PT, PMDB, PRP e até PSDB ocupam as principais funções.

Mesmo com o setor entregue oficialmente ao PRP, não foi com a “porteira fechada”, como se diz no jargão político. Os cargos mais vistosos foram ocupados por pessoas ligadas ao PT, embora indicados por Francis Lopes, que a primeira vista, pode parecer que foi o PRP. O presidente do partido diz desconhecer a origem da indicação da maioria dos comissionados. A estranheza vem causando dor de cabeça na cúpula do PRP, que está bem preocupada com a possibilidade de perder a presidência, caso ela vá realmente parar nas mãos de Halysson Carvalho.

Buscando entender quem realmente indicou o diretor administrativo, membros do partido iniciaram uma verdadeira romaria para ver se conseguiam descobrir. Entre boatos e ruídos, chegou-se até a deputada Rejane Dias, que negou veementemente, pedindo que seu nome não fosse envolvido no caso. O particular com a futura secretária da educação deu-se no vizinho município de Nazária, recentemente.

O certo é que Halysson fica a cada dia mais forte e confiante. O que faz com que muitos concluam que a indicação parte do governador Wellington Dias. E se realmente for, ele pode ser emplacado na presidência da Fundac, durante o período que Lopes estiver como deputado estadual. Para alguns setores do PRP, caso isso se confirme, indo de encontro a sugestão do nome do professor Nonato Monte, haveria quebra de acordo e da palavra empenhada pelo governador. Um deles deixou uma ameaça velada: “vamos engolir calados, mas as eleições municipais estão bem aí”.

Um mar de dívidas

A Fundac acumula dívidas em vários setores. Desde hotéis contratados para hospedar atrações do Festival de Folguedos, passando pelos artistas que se apresentaram no projeto Boca da Noite, serviço de som e iluminação e até alimentação dos atores que se apresentaram na peça “A Batalha do Jenipapo”, em Campo Maior.

O diretor administrativo afirmou que para garantir a alimentação dos atores da peça, no último dia 13 de março, foi preciso que os membros da equipe fizessem uma vaquinha para cobrir as despesas do restaurante Cervejão, na terra dos carnaubais. Uma verdadeira batalha, sem ironia.

Segundo Halysson Carvalho, só para a empresa Nota Musical, a dívida chega a R$ 400 mil. Os telefones fixos estão cortados há dois meses, material de expediente e limpeza estão escassos, com os fornecedores se negando a repassar devido as incertezas de pagamento.

Se está um caos, por que todos querem?

Perguntei a diversos setores por que a Fundac é tão disputada politicamente se tem poucos recursos e muitos problemas a administrar? As respostas são as mais variadas. Para alguns, tudo não passa do status quo que a função oferece, através dos holofotes da mídia espontânea gerada pelo setor cultural. Emissoras de TV, rádio, portais, jornais e revistas sempre põem em evidência os comandantes e seus assessores, especialmente os administradores da Escola de Música, de Dança, Museu, Biblioteca e do Theatro 4 de Setembro – a cereja do bolo e o mais cobiçado.

Segundo o diretor e autor teatral, Arimatan Martins, o Theatro deve ser ocupado como ponto estratégico difusor de cultura. A casa deve ser administrada por quem realmente ama a cultura, acima de tudo. Para Halysson Carvalho, a Fundac é muito disputada por causa do Siec – Sistema de Incentivo Estadual à Cultura. Mas para ele, isso vai acabar. O diretor afirma que o sistema vai para a secretaria da educação. Sem entrar muito em detalhes, o administrador da Fundac revelou esta novidade que há de gerar muita polêmica no seio cultural. Segundo ele, havia um descontrole dos projetos selecionados que, em alguns casos, trocavam suas cartas por valores menores, beneficiando as empresas que patrocinavam os projetos além da conta.

Há uma sugestão de balcão de negócios. O Siec funciona através de renúncia fiscal por parte do Estado, que abre mão de recolher o imposto que vai diretamente para a mão do artista, para que realize o produto cultural aprovado pelo sistema. Com a denúncia do diretor, cabe ao Estado investigar qual projeto e qual empresa (ou até no plural) está ou estão envolvidos neste desvio de conduta.

O caso da nomeação e exoneração no Theatro 4 de Setembro

O produtor cultural Antoniel Ribeiro, foi vítima de uma puxada de tapete sem precedentes. Nomeado para prosseguir no Theatro, após 4 anos de dedicação à casa de espetáculos, acabou por ser exonerado em seguida. A saída traumática foi noticiada na coluna “X da Questão”, neste portal, que conseguiu apurar que a saída de Antoniel foi uma exigência da senadora Regina Sousa.

Ribeiro confirmou a mim que recebeu o convite de Francis Lopes para continuar na direção do 4 de Setembro, mas qual não foi a sua surpresa e humilhação em ser exonerado logo em seguida. Para o ex-diretor: “Foi uma grande falta de respeito. Se não queriam que eu ficasse, por que me nomearam?”, questiona com toda a razão.

Apuramos que o convite para a direção do Theatro foi feito ao iluminador, Assaí Campelo, que dirigiu a casa nos dois primeiros mandatos do governador Wellington Dias. Membro fundador do PT no Piauí, Assaí nega o convite, mas fontes ligadas ao PT confirmam que ele foi sim convidado. O convite foi efetivado logo após a vitória do governador, ainda em outubro. Como não dava resposta e após negar o interesse, acabaram nomeando Antoniel.

Deputado Fábio Novo e Antoniel Ribeiro

O desgaste de Ribeiro se deu por acusações de que fez campanha para o ex-governador Zé Filho. Se fez, não se pode confirmar, Antoniel sempre manteve uma postura de neutralidade política, segundo ele: “meu partido é a cultura”. O produtor estava à frente do 4 de Setembro desde o governo de Wílson Martins. Ele diz que não guarda ressentimentos, mas revelou com alguma melancolia a falta de reconhecimento de tanta dedicação à casa.

Ribeiro conta que conseguiu inserir o Piauí novamente no circuito nacional dos grandes shows e espetáculos teatrais, superando os desgastes decorrentes de gestões anteriores que não teriam mantido a palavra e deixaram muitas companhias com o pé atrás quanto a produção local. Antoniel disse ainda que, muitas vezes, na falta de vigilantes, teve que passar os domingos inteiros dentro do Theatro para preservar o patrimônio, temendo que fosse vítima de vandalismos. Segundo ele, chegava às 7 da manhã e saía às 20h, em plantão direto para que os vigilantes improvisados, pessoas que faziam serviços prestados ao Theatro fossem em casa e tivessem alguma folga.

O produtor, que segue agora como gerente da casa Água de Chocalho, que vai voltar a funcionar, e Theresina Hall, muitas vezes teve que comprar do próprio bolso material de limpeza e expediente para que a casa funcionasse como o mínimo possível. Graças a parcerias e a sua influência junto a amigos e a imprensa, conseguiu reverter o processo e fez com que o Theatro funcionasse a contento.

Os técnicos do Theatro precisam se requalificar

Antoniel Ribeiro chamou a atenção para um dado importante e preocupante. Os técnicos que trabalham no Theatro 4 de Setembro estão envelhecendo, estão perto ou sendo encaminhados para a aposentadoria e não há uma renovação. Como não há no Piauí um curso de formação deste tipo de profissional, habilitado a trabalhar em caixa cênica, com conhecimento específico para atuar com o maquinário de palco, a casa de espetáculos mais importante do estado está fadada a passar por dias difíceis sem pessoal preparado para fazê-la funcionar.

Ribeiro afirmou que os que permanecem no Theatro não estão muito interessados em requalificação, não se adequaram aos novos tempos, não conseguem nem mesmo manipular um computador para fazer uma escala de folgas, sendo tudo feito a mão e com muito improviso. Os tempos são outros, é preciso ser dada a devida oportunidade de renovação com o devido preparo de formação a uma nova geração de técnicos. Sem desmerecer os verdadeiros heróis que carregaram o Theatro literalmente nas costas e são responsáveis por momentos brilhantes da história das artes cênicas e musicais do Piauí.

O caso da nomeação do novo diretor do Theatro

João Vasconcelos e Antoniel Ribeiro saíram com as relações estremecidas com a troca de um pelo outro na direção do Theatro. Apesar de uma amizade de mais de 25 anos, segundo Antoniel, havia alguma dificuldade de relação. O ex-diretor afirma que João, que estava no comando do Bar do Clube dos Diários, sem pagar aluguel, sem pagar Iptu, energia ou qualquer outro valor compensatório pela cessão do espaço para exploração comercial, não colaborava com alguns aspectos básicos da administração.

Ribeiro expôs que o espaço, por ser público, deveria ser licitado, mas, através de um contrato com a direção da Fundac, ainda na gestão de Bid Lima, Vasconcelos assumiu o gerenciamento do espaço, mas não repassava nem mesmo quentinhas para os técnicos que ficavam à tarde no Theatro, como havia solicitado como mínima contrapartida. Antoniel revelou este e outros descontentamentos em uma rede social, quando de sua exoneração.

O ex-diretor diz que houve uma campanha sórdida por parte da classe artística que afirmava que havia uma perseguição a João Vasconcelos. Ribeiro diz que queria apenas que as coisas funcionassem com o mínimo de colaboração e nega qualquer retaliação ao colega de profissão.

João Vasconcelos agiu elegantemente e nunca respondeu aos comentários e posts de Antoniel. Mas, fica a dúvida, será que é ético estar à frente da casa de espetáculos e ao mesmo tempo comandar o bar do Clube dos Diários? A Fundac pretende abrir licitação para ocupação e exploração do espaço?

Vereador Thiago Vasconcelos e o tio João Vasconcelos

João Vasconcelos foi nomeado pelo PT. Fontes seguras nos confirmam e checamos com pessoas próximas ao deputado Fábio Novo que a indicação do novo diretor é dele. O deputado nega publicamente, talvez para não melindrar mais ainda a relação com o PRP.

Vasconcelos tem um grande trânsito no meio artístico. Há muitos anos atua na produção, criação e direção de espetáculos que promovem a cultura local. Para algumas cabeças coroadas do setor, a chegada de João significa um novo tempo em que os produtos culturais locais terão mais oportunidade de ocupar o palco italiano do 4 de Setembro.

Para eles, mesmo reconhecendo o empenho de Antoniel, o produtor deixou em segundo plano as montagens locais em detrimento dos espetáculos nacionais. Com exceção dos shows dos humoristas, raramente era aberta oportunidade para que os produtos realizados no Piauí se apresentassem no 4 de Setembro.

Mudança para todos os lados

Como se vê, há queixas para todos os lados e insatisfações de toda ordem sobram nos bastidores da cultura local. Independente de quem tenha a razão, a mudança aconteceu e deve iniciar um novo período. Alguns artistas, produtores e ex-gestores tem se encontrado no bar do Clube dos Diários para discutir um plano a ser apresentado à nova presidência da Fundação Cultural e uma tomada de posição conjunta que reflita os interesses do segmento.

Em sua maioria, são pessoas que já participaram de gestões anteriores em posição de destaque e têm muita experiência em projetos, realização de espetáculos e outros produtos culturais. Mas, se já tiveram a oportunidade de fazer, por que não fizeram antes? É o que questionam alguns setores que não escondem o pessimismo do que vai gerar os encontros. Para eles, absolutamente nada. Céticos, apenas acompanham a movimentação, mas creem que os envolvidos só estão interessados porque foram alijados da ocupação da Fundação por uma equipe nova, em sua maioria, totalmente desligada de relações diretas com artistas e produtores.

Há um clima de desconfiança entre os artistas sobre a nova gestão. Cansados de assistir a uma sequência de administrações que não promoveram os interesses dos artistas, apenas repetindo pequenos projetos de gestões anteriores ou realizando eventos pontuais que promovem muito mais os interesses dos políticos ligados a pasta do que ações culturais significativas, a grande maioria da classe está com o pé atrás, ou melhor, os dois pés estão aguardando para tomar uma caminho que será determinado pelo tom efetivo que a Fundac vai implementar em suas políticas.

Entre as posições, há grupos que querem o diálogo para serem ouvidos e atendidos. Só serem ouvidos e terem seus projetos engavetados mais uma vez, não interessa. Outros, mais ligados a oposição partidária derrotada na eleição anterior, querem uma postura mais radical, realizando protestos e outras manifestações para chamar a atenção da população e da mídia.

E há os xiitas, em menor número, que afirmam nas redes sociais que não há mais em que crer. Para eles, a Fundac deve ser tomada, ocupada e, a partir daí, provocar mudanças cabais para que, finalmente, os artistas tenham vez e voz. Não admitem mais servirem de massa de manobra nem serem relegados ao que resta, o que sobra, às migalhas.

A direção da Fundac deve se adiantar e tomar providências urgentes de aproximação com os artistas. Há um distanciamento que pouco colabora para criar uma relação de confiança. É preciso humildade para pedir um crédito, discutir abertamente com os artistas o que lhes é prioritário, o que o Estado pode atender, o que não pode. Que políticas públicas podem ser desenvolvidas a curto, médio e longo prazo. E, acima de tudo, cumprir o acordo que seja firmado.

Como estão, encastelados, a situação apenas desgasta mais ainda o que já está muito ruim. Mas não há nada que esteja tão ruim que não possa piorar. Sair do gabinete e circular pelo circuito onde deságua a produção, onde os artistas se encontram e tomam suas decisões é tarefa imediata a ser tomada pelos gestores. Parafraseando Mílton Nascimento, com alguma permissão pragmática: “o gestor tem que ir aonde o artista está”.

Dúvidas e incertezas que geram insegurança

Ao assumir a pasta, o cantor Francis Lopes, já trazia a expectativa de assumir o mandato de deputado. Na sexta suplência, mas com a habilidosa engenharia política do governador, Francis vai passar um período na Alepi. Pouco mais de dois meses após assumir a presidência do órgão, no último dia 11, Lopes deixou a Fundac. O substituto é uma incógnita. A indicação do diretor administrativo, Halysson Carvalho, não deve vingar.

A resistência do PRP ao nome do diretor pode causar uma celeuma desnecessária à harmonia dos partidos coligados que compõem o governo. Ciente disso, o governador, provavelmente, vai buscar o caminho do meio para arrefecer os ânimos e deixar as partes em contenda lutando pela mesma causa e não divergindo a ponto de causar mais ruídos e mal estar à administração pública.

Lopes deve passar apenas uma temporada como deputado. O período necessário para que a reforma administrativa seja aprovada. Wellington Dias vai fazer algumas mudanças no status, criação de novas pastas e outras alterações de seu interesse para viabilizar o seu projeto administrativo.

Entre as modificações, vem a tão sonhada, aguardada e providencial criação da Secretaria de Cultura. Na condição de deputado, Lopes só pode assumir órgão com status de secretaria. A não ser que renuncie. É pouco provável que ele faça isso por livre e espontânea vontade. Seria muito altruísmo e amor pela causa. Certamente ele vai aguardar e atuar no encaminhamento para que a reforma seja aprovada o mais rápido possível, como deseja o governador.

O tempo que a reforma será aprovada é mais uma incógnita. Pode demorar poucos dias (pouco provável), pode demorar meses (vai depender da capacidade de articulação e negociação com os parlamentares de oposição), pode até demorar muito tempo ou ainda nem ser aprovada, totalmente, apenas parcialmente. Tudo é uma questão de habilidade política. O fato do governador ter uma grande resistência na casa parlamentar, traz mais incertezas e não se pode marcar data para o dia que estará criada a Secretaria de Cultura.

Implantação do SNC


O Piauí foi o 14o estado que assinou, em 2005, portanto há dez anos, no primeiro governo de Dias, o termo de adesão ao SNC – Sistema Nacional de Cultura. Trata-se de uma série de medidas em que o Estado compromete-se a realizar para que entre, vamos dizer assim, no novo tempo da Cultura.

Entre as mais destacáveis medidas, estão a criação de uma Secretaria de Cultura e Conselho Estadual de Cultura, CEC, com fins deliberativos, por enquanto é apenas consultivo e normativo. Na prática, o CEC apenas ensaia, mas pouco ou nada realiza. Com exceção da revista Presença, que está em sua edição de número 50.

O Conselho é lento como uma tartaruga, tudo é feito com um ar nostálgico de outros tempos passados e atrasados. Como exemplo, o portal está desatualizado desde o dia 3 de outubro do ano passado, prestes a completar seis meses inerte. Em tempos em que a força e a velocidade da internet nos obriga a acelerar os passos e as ações, vai ter que mudar muito, mas muito mesmo.

E vai mudar. A partir do momento que o CEC passe a ser deliberativo, não vai faltar atividade para os conselheiros. Em tese, todas as ações da futura Secretaria de Cultura têm que receber a chancela do Conselho para serem efetivadas. Os órgãos vão ter que trabalhar em extrema harmonia para que a gestão cultural funcione a contento.

Abre-se um novo olhar para o Conselho. É bem provável que os partidos ajam com mais atenção na indicação dos ocupantes que vêm da Alepi, bem como o executivo nas suas demandas e mais ainda os artistas, que também tem indicação na casa. Supõe-se até que pode haver um aparelhamento do Conselho. O que já foi local de dias leves e tranquilos, onde as vozes ecoam com ritmo lento, quase parando, seja espaço de debates efervescentes e inflamados. O CEC deve virar, acima de tudo, um lugar de militância pelas causas culturais pontuais. Não mais do que se fez, mas do que se faz e do que vai se fazer.

Só após a criação da SEC (já estou criando uma sigla por minha conta para a Secretaria de Cultura) e a transformação do CEC em deliberativo, o Sistema Nacional de Cultura trará as benesses em forma de verbas que estão disponíveis para os que já se adequaram às novas políticas do MinC e do Governo Federal. Apesar do costumeiro contingenciamento do governo para o setor, há muito recurso público que pode alavancar sobremaneira a realidade cultural piauiense.

De “patinho feio” a “cisne”

É por isso que a Fundac está tão disputada. Não é pelo presente cheio de intrigas, puxadas de tapetes e juras de vingança que muitos estão enfronhados em uma guerra que atua como “fogo de monturo”, não se percebe, mas a temperatura está alta, bem como está aquecida a batalha por cargos e posições.

Não é no presente cheio de dívidas e a ânima revoltada de uma categoria cansada pela espoliação de recursos e a falta de políticas públicas consistentes. Mas, pelo futuro alvissareiro que, aqueles que conseguem ver na linha do horizonte, vislumbram dias dourados para a SEC.

Com um bom volume de recursos, com engajamento de ações valorosas, com os holofotes todos voltados aos bem culturais produzidos em número vistoso, o “patinho feio” muda as penas e transforma-se em um cintilante “cisne” a nadar imponentemente em meio as demais pastas da administração pública. Todos querem, todos vão querer estar, pelo menos, perto do brilho fulgurante que promete ser a cultura estadual.

Shows em São Paulo


A partir de hoje, 20, Francis Lopes realiza uma sequência de shows por cidades de São Paulo. Ao todo, 13 shows estão agendados em churrascarias e até praças públicas. A turnê paulista vai até o dia 29. Um dos maiores sucessos musicais do artista é a música “Lamento de um nordestino”. A canção estourou aqui e no sul maravilha, ecoando fortemente pelas emissoras de rádio.

O refrão da música cabe com perfeição ao momento vivido: “Eu sei que vou, vou pra São Paulo, mas vou deixando a minha fonte de alegria. Deus, por favor, me dê trabalho e a esperança de poder voltar um dia”. Os artistas, os jornalistas, os políticos, estão na espera, certamente.

Francis Lopes blindado

Para realizar esta matéria, falamos com mais de 20 pessoas por telefone e pessoalmente. Ouvimos os principais atores envolvidos com o setor e fomos bem recebidos, mas, depois de dois dias com insistentes ligações, não conseguimos ouvir o ponto de convergência, o cantor Francis Lopes.

Apesar da colaboração de alguns assessores, outros nem tanto, deu para perceber que há uma política para proteger o futuro deputado das escorregadas que têm estampado nos portais. A falta de habilidade no traquejo de assuntos da pasta, mostra que o gestor ainda conhece pouco da matéria. Vai ter que estudar muito para fazer a diferença.

Francis Lopes não vai poder evitar a imprensa por muito tempo. Aliás, para acalmar os ânimos, deveria se pronunciar sobre as incertezas que rondam e enchem os segmentos artísticos de mais dúvidas, mas, ao que tudo indica, a assessoria do artista apoia ou aconselha o isolamento.

Estamos aqui, com o espaço aberto para ouvir o gestor. O Política Dinâmica aguarda as suas declarações e os artistas, principalmente, querem respostas eficazes para a gestão cultural e para seus anseios por políticas públicas que façam a diferença, positivamente.

Cenas dos próximos capítulos

A Fundac, em parceria com o MinC, vai realizar uma série de fóruns em cidades polo para a implementação do SNC, encerrando com o grande encontro no Fórum Estadual de Cultura. O grande encontro deve acontecer em abril.

Parnaíba, a segunda maior cidade do Piauí, por um descuido, foi esquecida da relação de cidades enviadas para realização de fóruns. Curioso é que a cidade é administrada pelo prefeito Florentino Neto, do mesmo partido do governador. O MinC percebeu o deslize e mandou que a lista fosse reformulada. Apesar da negação do equívoco dentro da Fundac, fontes de Parnaíba confirmaram o esquecimento.

Não há nada de grave que prejudique alguma coisa, apenas demonstra que os assessores ainda estão se familiarizando com os meandros do cotidiano da gestão cultural, que exige sempre muita atenção. Com o tempo, vão pegar o macete da gestão, com certeza.

Os Pontos de Cultura, que estão sucateados na maioria dos municípios e na capital, começam a ser revitalizados através de parceria com a Seduc. No último sábado, 14, o Ponto de Cultura de Paes Landim, terra do governador Wellington Dias, foi reinaugurado com festa pela comitiva da Fundac e o staff governamental.

Através de convênio com o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Porto das Barcas, em Parnaíba, vai ser revitalizado. Cerca de R$ 7 milhões de reais devem ser investidos na obra. Ponto positivo para a nova gestão.

Bandeira branca

Depois de um longo período afastados, Francis Lopes acenou para Laécio Borges (PRP). Eles devem sentar brevemente e entrar em acordo para definir quem vai para a presidência da Fundac na ausência de Lopes. O nome que deve ser apresentado por Francis para a paz e a harmonia voltar a reinar no campo político partidário deve ser de Jacemia Dantas, segundo fontes.

Por outro lado, a cúpula do partido insiste no nome do professor Nonato Monte para a presidência da casa. Pelo visto, se nenhuma das partes ceder e bater pé em suas indicações, o governador vai ter que intervir e um terceiro nome pode assumir e acabar com a discórdia. Ainda tem muitas lutas e batalhas até que a bandeira branca consiga tremular no setor cultural.

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