Em todas as vezes que Wellington Dias (PT) foi governador do Piauí, a Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (SESAPI) foi palanque para eleger um deputado federal. Mas desta vez, a estrutura vai ter que aguentar dois: o deputado e líder do PT na Assembleia Legislativa, Francisco Costa e o atual secretário de Saúde do Estado, Florentino Neto, também do partido do governador.
A SESAPI é o 3º maior orçamento do governo: são R$ 1,6 bilhão de reais previstos para gastos em 2021 sem contar os "extras" que o Governo Federal manda para o combate à pandemia de Covid-19. No quesito "dinheiro pra gastar", perde apenas para a Secretaria de Administração e Previdência (SEADPREV), com orçamento de R$ 3,1 bilhões de reais; e para a Secretaria de Educação (SEDUC), que tem R$ 1,8 bilhão de reais de orçamento.
O mais estranho desse "fenômeno" talvez seja o fato de que não temos um sistema de Saúde que, à primeira vista, gere reconhecimento espontâneo de seus gestores.
SESAPI E POLÍTICA
A Sesapi em governo do PT no Piauí tem relação estreita com a Câmara Federal. Em 2002, Nazareno Fonteles era o primeiro suplente do PT tendo obtido apenas 42 mil votos para deputado federal naquelas eleições. Em 2003, ano que em Wellington Dias assumiu o seu primeiro governo, Nazareno se tornou secretário de Saúde. Na eleição seguinte, em 2006, Fonteles foi eleito deputado federal titular com 64 mil votos.
Quando Wellington Dias assumiu seu segundo mandato, em 2007, o petista escolhido para assumir a SESAPI foi Assis Carvalho, à época, deputado estadual eleito com 33 mil votos. Veio então a eleição de 2010 e Assis deu um salto da Assembleia Legislativa do Piauí para a Câmara Federal com 99 mil votos nominais.
Entre os anos de 2010 e 2014, os governadores foram Wilson Martins (PSB) e Zé Filho (à época, MDB). Nenhum de seus secretários de Saúde foi candidato a deputado federal.
AGORA SÃO DOIS
Eleito em 2014 para o terceiro mandato, Wellington Dias pões novamente a Saúde na cota de gestão de Assis Carvalho, reeleito deputado federal com 94 mil votos, uma votação menor do que aquela obtida com o controle da SESAPI. Desta vez, Assis indica uma pessoa de sua confiança para ser secretário enquanto permanece deputado em Brasília, mas mantém o controle total da pasta. O médico Francisco Costa (PT) à época era prefeito de São Francisco do Piauí e largou o mandato para assumir o comando da SESAPI.
Quatro anos mais tarde, nas eleições de 2018, a votação de Assis dispara para 129 mil votos dando a ele seu terceiro mandato na Câmara Federal. De quebra, Francisco Costa foi eleito deputado estadual com 41 mil votos.
Com a saída de Francisco Costa da SESAPI, quem assumiu a pasta foi o ex-prefeito Florentino Neto, de Parnaíba, derrotado em 2016 por Mão Santa (à época, PSC) em Parnaíba. Ele ocupa o cargo até hoje, mantido na pasta quando Wellington Dias assumiu seu quarto mandato em 2019.
Ninguém vai substituir o político que Assis Carvalho era, para o PT, para Wellington ou para o Piauí. Porém, a morte dele não deixou a SESAPI sem "candidato".
Francisco Costa e Florentino vão, ambos, disputar a vaga de deputado federal. O ex-prefeito de Parnaíba já ensaiava há muito tempo o voo solo. O deputado estadual foi alçado pelo governador Wellington Dias como "substituto" de Assis imediatamente após a notícia da morte dele, para evitar uma debandada de prefeitos, vereadores e lideranças ligadas ao mandato de Assis e manter os colégios eleitorais no contexto do governo.
Não é o melhor uso para a secretaria em meio a uma pandemia, mas é o que o atual governo sabe fazer.
Uma questão de tradição para o PT e, nisso, os petistas são bem conservadores.
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