Odebrecht também pagou propina para Zelada, diz Polícia Federal

CURITIBA E SÃO PAULO — A construtora Odebrecht pagou propina ao ex-diretor da área internacional da Petrobras, Jorge Zelada, em troca de benefícios em um contrato da estatal, segundo a Polícia Federal (PF). A revelação consta do relatório final de indiciamento do ex-diretor, que está preso em Curitiba e responderá pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, relacionados a outro contrato na estatal.

Até então, a Odebrecht era acusada de pagar propina aos ex-diretores de Serviços, Renato Duque, e de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, além do ex-gerente Pedro Barusco. Em julho, o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, e mais 12 pessoas, foram denunciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Segundo documentos enviados por autoridades suíças aos procuradores da Lava-Jato, anexados ao processo de Zelada e revelado neste domingo, o grupo Odebrecht depositou, entre 2008 e junho de 2014, 130 milhões de dólares e 21 milhões de euros na conta da offshore Klienfeld, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas.

Por sua vez, a Klienfeld efetuou um depósito de 571,4 mil dólares, em maio de 2010, na conta da empresa Tudor Advisory Inc., mantida na Suíça. Os investigadores obtiveram a ficha de abertura da conta da Tudor no banco suiço Lombard Odier, onde consta o nome de Jorge Zelada como beneficiário.

A PF sustenta que o pagamento está relacionado ao contrato assinado pela Petrobras com a Odebrecht em outubro de 2010, por 825,6 milhões de dólares, para que a construtora cuidasse da segurança ambiental das empresas da estatal em dez países.

A auditoria interna da Petrobras verificou que Jorge Zelada atuou, desde dezembro de 2009, para que o contrato fosse centralizado em apenas uma empresa, apesar da oposição da área técnica na estatal. A Odebrecht seria escolhida para prestar o serviço depois de participar de licitação que teve como concorrentes a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez, empresas acusadas de participar de um cartel na estatal.

CHURRASCO EM ITAIPAVA

Os investigadores ainda não identificaram quem seriam os funcionários da Odebrecht responsáveis pelo pagamento a Zelada. Mas relataram, no documento, a proximidade do ex-diretor com Rogério Araújo, executivo da Odebrecht. Há registro de reuniões de Araújo com Zelada na mesma época em que o contrato era negociado, em 2010.

Em 2012, Araújo convidou Zelada por e-mail para uma confraternização: “vamos fazer um churrasquinho em Itaipava no fim de semana? Tenho acomodação para vocês passarem o fim de semana na Serra! Gonçalves disse que comanda o churrasco!”, escreveu para Zelada, Pedro Barusco e Roberto Gonçalves, ex-gerente na estatal.

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O GLOBO perguntou à Odebrecht se os recursos depositados pela empresa na conta da Klienfeld eram para pagar propina, como sustentou a PF. A construtora preferiu não se manifestar.

Sobre a acusação de favorecimento na licitação para assumir a segurança ambiental da Petrobras no exterior, a Odebrecht disse negar a existência de “qualquer irregularidade nos contratos firmados com a Petrobras, todos conquistados de acordo com a lei de licitações públicas”. A empresa informou ainda que o contrato citado “resultou de licitação pública vencida por menor preço, em 2010”.

Fonte: O Globo

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