VAGA DO TCE: A CONFUSÃO DE FRANZÉ

O deputado estadual Franzé Silva é o candidato do governador Wellington Dias para se tornar conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Se a escolha fosse direta, nem haveria disputa, já estaria nomeado pelo governador. Mas a escolha é da Assembleia Legislativa e Franzé não é candidato único nem mesmo dentro do PT. Para aumentar a confusão, segundo fontes do Política Dinâmica, o petista ainda está fazendo campanha prometendo o que não deveria -- obras do governo -- e também o que não vai poder entregar: espaço na chapa proporcional do PT em 2022. Seria uma espécie de "compra" de votos, que o deputado, aliás, nega.

Como conseguir aquela vaguinha vitalícia de conselheiro no Tribunal de Contas? Essa é a pergunta que não quer calar para Franzé (foto: Jailson Soares | Politica Dinâmica)

Mesmo sendo o preferido do governador, lá no Partido dos Trabalhadores, Franzé disputa a vaga com a também deputada estadual Flora Izabel e com o deputado Ziza Carvalho. Segundo uma fonte do próprio PT, o governador teria dito ao deputado que abraçaria sua candidatura (fazendo gestão junto aos demais deputados), mas que antes Franzé teria que "se viabilizar". Outra fonte, de outro partido, confirmou a mesma história. "Mas acho que o companheiro entendeu 'coisa' além do que o governador disse pra ele", ponderou a fonte petista, quem será um dos eleitores.

OBRAS PARA A OPOSIÇÃO

Segundo conta esse deputado, Franzé estaria viabilizando obras para deputados de oposição e para "recém-chegados" no governo em troca do voto desses deputados. Parte dessas obras estariam sendo disponibilizadas por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Lá o secretário é Igor Neri, uma indicação do deputado Nerinho (PTB), que negou ao Política Dinâmica que a SDE esteja servindo a este propósito. Mas Nerinho reconhece que tem ótimo relacionamento com Franzé e por ser da base de Wellington Dias, vai votar "no candidato do governo", sem especificar o nome. "Eu acho que o governador deveria tomar muito cuidado com essa ansiedade do companheiro Franzé, pra depois o governo não se complicar", advertiu a fonte petista.

Obras para adversários: se Franzé promete, ele promete com aval de Wellington Dias? (foto: Jailson Soares | Política Dinâmica)

VAGAS NA CHAPA DO PT

Outra questão levantada por essa mesma fonte é a promessa de vaga na chapa proporcional do PT para as eleições de 2022. Com o fim das coligações, partidos sem número suficiente de candidatos devem ter mais dificuldade para eleger mesmo deputados que possuem um histórico de boas votações, como é o caso do próprio Nerinho e da deputada Jannaina Marques (ambos do PTB) e do deputado Firmino Paulo (hoje, no PP).

"Ele [Franzé] não pode garantir a ninguém que o PT vai aceitar qualquer outro deputado além do Oliveira [Neto, atualmente no Cidadania] e da deputada Elizângela [Moura, atualmente no PCdoB], em troca dos votos desse pessoal para ele ir pro Tribunal de Contas. É muito bonito, né, para ele, negociar um emprego vitalício no TCE às custas do sacrifício de quem vai ter que disputar votos ano que vem e que passou a vida toda contruindo um partido. Aí ele quer que a gente aceite quem vem aqui só tomar o lugar da gente?", reclamou o deputado, dando a entender essa promessa estaria sendo feita a Nerinho, Jannaína e Firmino.

De primeira: Franzé quer ser nomeado conselheiro do TCE antes mesmo de terminar seu primeiro mandato na ALEPI; alguns parlamentares tem ressalvas sobre esse "timming" (foto: Jailson Soares | Política Dinâmica)

A mesma fonte lembrou que Franzé deixou de ser candidato a prefeito de Teresina em 2020 exatamente por "ser muito afoito" e por "não respeitar o partido". Neste momento, a história estaria se repetindo. "Não interessa se ele acha que o Ziza por ser suplente tem menos direito que ele, ou que a Flora é amiga demais do Themístocles [Filho, presidente da ALEPI, figura à qual o PT tem suas restrições]. Dentro do partido ele não é mais bonito do que ninguém, e a escolha é dos deputados não do governador", disse a fonte em tom de desabafo.

Em seguida a fonte emendou com ironia: "Ele é novo aqui [na ALEPI], estás no primeiro mandato, pode contribuir com mais um ou dois mandatos ante de querer ir pro TCE. Misturar o governo ou as eleições do ano que vem com o interesse pessoal dele nessa disputa só mostra que ele não deveria ser conselheiro do TCE, você não concorda?".

"Sim, claro. Nenhum de vocês deveria ir pro TCE", respondemos, sinceramente.

O QUE DIZ FRANZÉ

O deputado Franzé Silva foi procurado para comentar o assunto, disse que "nunca ouvi tanta bobagem juntas (sic)". E em seguida afirmou que "além de bobagem, se realmente essas afirmações partiram de dentro do meu partido, certamente deve ter sido de alguém que não me conhece. Não há campanha pro TCE. O acesso àquela Corte como membro, depende de critérios claramente estabelecidos. Não conversei com ninguém que esteja na oposição ao Governo do Estado sobre TCE e segundo não tenho força política pra decidir vaga na chapa proporcional", assegurou.

SOBRE 2022

O deputado Franzé ressaltou ainda que suas expectativas quanto às eleições do próximo ano são públicas. "Tenho defendido publicamente através da imprensa meu ponto de vista em relação a chapa proporcional. Defendo que Rafael é o candidato de maior projeção ao cargo de candidato a governador em 2022 e a vaga de vice, na minha opinião deverá ficar com o MDB", disse, sem mencionar que esse vice tenha que ser ou deva ser o atual presidente da ALEPI, Themístocles Filho. Sendo o petista tão próximo de Wellington, essa lacuna parece muito com aquela de 2018. 

Déjà vu: Franzé fala que Rafael Fonteles será candidato a governador e que vaga de vice é do MDB, mas não cita o nome de Themístocles (foto: Jailson Soares | Politica Dinâmica)

TUDO PRO PT

Quanto à chapa proporcional e a entrada de outros parlamentares no PT, ele diz que "pra eleição de 2022, tenho defendido publicamente que devemos manter a estratégia de termos acima de 400 mil votos e fazermos uma bancada de nove a dez deputados na próxima eleição. Tenho defendido que primeiro seja discutido os nomes que hoje estão no PT pra compor a chapa". Mas Franzé abre espaço para outros deputados já contando com a vaga do TCE ficar, provavelmente, com "alguém do PT".

"O que é preciso analisar, teremos a saída do deputado Francisco Costa da contagem da meta de 400 mil votos, já que o mesmo irá sair candidato a deputado federal e a provável ida de um dos três parlamentares do PT que colocaram seus nomes pra concorrer ao TCE, caso um desses seja escolhido. Esse cenário diminuiria mais de 70 mil votos na nossa meta de coeficiente eleitoral para 2022. Isso abre perspectivas para convite de deputados com mandatos que tenham mais afinidades com nossa entidade. Ressaltando que essa discussão ainda acontecerá nas instâncias do Partido", analisa.

Interessante é que o candidato a governador vai ser do PT, o candidato a senador vai ser do PT, o conselheiro do TCE vai ser do PT e o suplente que assume a vaga na ALEPI de maneira efetiva com a saída do deputado também vai ser do PT. 

Só isso. 

Os partidos aliados ficam com um tapinha nas costas. 

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