O HONESTO E O DELEGADO QUEREM COMPRAR SEM LICITAÇÃO

A pandemia descontrolada tornou urgente todas as aquisições de medicamentos e insumos. Isso não é novidade para nenhum gestor. Mas a Prefeitura de Teresina deixou faltar o básico nos estoques da Fundação Municipal de Saúde. Agora, o vice prefeito Robert Rios (PSB) anuncia que vai ter que fazer compras sem licitação. E quer que o Ministério Público, os Tribunais de Contas e a Câmara Municipal deem autorização para que ele e Doutor Pessoa possam ir à feira.

Um se diz muito honesto, o outro faz sempre questão de dizer que é delegado da PF, mas o prefeito e o vice querem fazer compras sem licitação; a alegação é de "urgência" (fotos: Jailson Soares | PoliticaDinamica.com)

Na última terça-feira (23), o vice-prefeito deu uma entrevista ao jornalista Pedro Alcântara, sobre aquisição de testes para detecção de covid-19. os testes seriam, agora, parte de uma estratégia de testagem em massa para mapear a pandemia em Teresina. Mas, segundo Robert, a urgência da situação não combina com a demora de uma licitação, logo, a compra deveria ser feita de maneira direta, sem concorrência. Vai lá num fornecedor e compra logo, mesmo com sobrepreço.

ATESTADO DE INCOMPETÊNCIA

Três meses de gestão e a PMT não conseguiu fazer uma licitação para aquisição de testes de covid para testagem da população (foto: Ascom SECOM)

Como Doutor Pessoa é muito honesto e Robert é ex-delegado da Polícia Federal, dá pra confiar... Tanto que Robert quer que os órgãos de controle e fiscalização autorizem e assinem junto com ele o pagamento. "A Secretaria de Finanças e o prefeito municipal só vão comprar esses testes com sobretaxa se for acompanhado pelo Tribunal de Contas, pelo Ministério Público, pela própria Polícia Federal. Também a Câmara Municipal, inclusive a oposição", salientou Robert. Ter o Brasão da PF numa máscara nunca foi tão simbólico.

Veja o vídeo da entrevista:

Vamos lembrar: já são 84 dias de gestão. A pandemia já existia antes de pessoa ser prefeito. Ele chegou na prefeitura e sua equipe não pensou em verificar os estoques da FMS ou iniciar uma licitação?

Essa história de comprar testes sem licitação é um recibo que a gestão de Pessoa está passando de que o prefeito subestimou até aqui a gravidade da pandemia.

CONVERSA ESTRANHA...

Sem falar que o discurso de Robert flerta com a chantagem institucional e beira a coação pública. Os vereadores podem até aceitar essa conversa magra, quem sabe em troca de indicar um ou dois desses terceirizados ou comissionados que a primeira-dama Samara Conceição anda mandando demitir da Fundação Municipal de Saúde. Não dá pra duvidar que isso possa ocorrer.

Mas que precedente estariam abrindo o Ministério Público do Estado ou o Federal, ou ainda os Tribunais de Contas do Estado e da União se aceitarem essa proposta? Todos os municípios vão poder fazer o mesmo, ou só aqueles premiados com uma dupla dinâmica igual a de Teresina? Será que a PF, por exemplo, assina com Robert um pagamento para a Dimensão Distribuidora -- empresa de Jadyel Alencar, investigado em pelo menos duas operações federais que apuram supostos esquemas criminosos de desvio de recursos de combate à pandemia --  se o preço dele for o melhor? 

Seria, no mínimo, curioso. 

De todo modo, também não tem como garantir que a compra não seja direcionada. Alguém mal intencionado já poderia ter sondado o mercado, mandado alguém visitar donos de distribuidoras e combinado comissão em caso de qualquer uma delas se tornar fornecedora.

No Brasil do Covidão, desconfiar de coisas desse tipo é uma obrigação administrativa, legislativa, policial e jornalística.

Nessa gestão de Teresina, o poste quer fazer xixi no cachorro.

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