O ESQUEMA DA OBRA

Um esquema simples: dinheiro que outros colocam dentro de uma instituição usado pelo gestor para fazer favores e se beneficiar pessoalmente, coisa disfarçada com o nome de “obra”. Poderia ser mais uma prefeitura qualquer do Piauí, mas é a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Piauí.

Celso Barros pagou pelo menos R$ 840 mil a uma empresa de amigos e o pessoal da família está na chapa: uma jogada de "mestre"! (foto: Jailson Soares | Política Dinâmica)

A denúncia foi feita por um integrante da atual gestão da OAB-PI, que afirma estar reunindo documentos para formalizar denúncia contra o presidente Celso Barros Coelho Neto e um suposto “esquema” para financiar e viabilizar campanhas eleitorais.

A OBRA

Em setembro deste ano, Celso Barros fez festa para inaugurar a nova sede da OAB-PI em Piripiri.

O valor total da obra é um número desconhecido. Não há informações sobre ela disponíveis nos canais da OAB-PI. Sabe-se que a obra foi realizada pela RIGA CONSTRUTORA LTDA (cujo CNPJ já foi da ÔMEGA ENGENHARIA E CONSULTORIA, história para outra ocasião), mas sem maiores detalhes oficiais.

Em visita ao terreno onde foi construída a sede da OAB em Piripiri, Celso Barros e sua trupe escutam explicações de José Filho Paranaguá, sócio da Riga Construtora (foto: Ascom OAB-PI)

No pouco que se pode conseguir no portal da transparência da atual gestão da OAB-PI, é possível localizar 7 pagamentos feitos por Celso Barros Neto a essa empresa, totalizando o montante de R$ 840.646,74 (oitocentos e quarenta mil, seiscentos e quarenta e seis reais e setenta e quatro centavos).

A matéria publicada no site da OAB-PI que trata da inauguração do local, aliás, omite o valor do investimento.

Quando algo assim acontece em prefeituras municipais, por exemplo, não é raro que parte do valor da obra "retorne" para o gestor. Vira caixa 2 de campanha, presentes para familiares, farras em viagens "oficiais"... corrupção em estado puro, que só é descoberto com denúncia e investigação.

Celso e Einstein posando ao lado do sócio da Riga Construtora, José Filho Paranaguá, irmão da advogada Claudia Paranaguá (foto: Ascom OAB-PI)

Já neste caso específico da OAB-PI, o presidente Celso Barros e o setor de imprensa da OAB-PI não quiseram prestar esclarecimentos sobre o contrato e a obra.

E é aqui que a história fica interessante.

QUEM É QUEM E O QUE CADA UM QUER

A informação checada pelo Política Dinâmica é a de que houve uma grande troca de favores, uma verdadeira ciranda com recursos, engajamento e militância da Ordem. O assunto já é de domínio público nos bastidores da OAB-PI.

A Riga Construtora pertence ao empresário Victor Andrade Carvalho, que assina seu nome como Victor Andrade Paranaguá. Ele é herdeiro de José Ribeiro de Carvalho Filho, que também é sócio da Riga e que é irmão da advogada Cláudia Paranaguá. Victor é, assim, “primo-irmão” da advogada Isabella Paranaguá, como ela mesma o chama em suas redes sociais.

A empresa, quem em seu portifólio atual no Instagram só possui histórico de construção de imóveis residenciais de alto padrão, teria conseguido a obra institucional da OAB-PI por intermédio de Cláudia Paranaguá. Seria o acerto que selou o compromisso de Celso Barros com ela e a filha, Isabella.

 Santa coincidência: Celso, que ordena despesa, e Einstein Sepúlveda, que paga, são amigos de José Filho Paranaguá. Por sua vez, José Paranaguá é pai de Victor Andrade Paranaguá e sócio do próprio filho na Riga Construtora. Um é irmão e o outro é sobrinho da advogada Claudia Paranaguá, que disputa vaga no TJPI e é mãe da advogada Isabella Paranaguá, indicada para o cargo de conselheira federal na Chapa 3, que trabalha pela reeleição de Celso, atual presidente que transferiu pelo menos R$ 840 mil para a empresa da família este ano. Para fechar, o detalhe: Victor é seguido nas redes sociais pelo perfil @EleicoesOabPiOficial, que faz campanha para Celso.

Cláudia, que disputa atualmente uma vaga de desembargadora no Tribunal de Justiça do Piauí, precisava de um cabo eleitoral. Durante suas viagens e reuniões na campanha de reeleição, Celso, então, deveria pedir votos para ela, o suficiente para que um nome tão controverso quanto o dela figurasse estranhamente entre os 12 mais votados pela advocacia.

O compromisso vai além: Celso teria o compromisso de garantir que Cláudia esteja na lista sêxtupla, que o Conselho Seccional vota após as eleições da OAB, tirando chances reais de algum outro candidato. Não que ela tenha chances de passar pelo crivo dos desembargadores. Segundo o Política Dinâmica apurou junto a dois deles, “a fama dela não é das melhores” e um deles chegou a mencionar uma denúncia contra ela que teria sido “engavetada” no Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI.

Mas chegar à lista sêxtupla lhe dá “status” no meio jurídico.

Beirando a misoginia, Celso precisava de mulheres que "topassem" defendê-lo em campanha... Mas nem todo apoio é de graça, ao que parece. (foto: Jailson Soares | Política Dinâmica)

Já para Celso, a paridade de gênero na chapa impôs um grande desafio: esconder seu próprio histórico machista e sexista durante a campanha. Cercar-se de “celebridades” femininas é parte da estratégia para induzir o eleitor da OAB-PI ao erro de acreditar que Celso não é assim, embora seja. E aí Isabella Paranaguá ganhou sua vaga de conselheira federal na Chapa 3, desmotivando diversas advogadas que mantinham algumas das engrenagens da OAB-PI funcionando enquanto ela morava em São Paulo.

O SILÊNCIO DE TODOS

Um esquema comum de acertos imorais. Favores permitidos pela falta de fiscalização em uma autarquia que não presta contas a nenhum tipo de controle externo.

Pelo menos é isso que sugere o silêncio de todos os citados. 

O Política Dinâmica tem entrado em contato com a OAB-PI para tratar destes e de outros assuntos desde o dia 29 de outubro de 2021. Solicitamos as informações sobre o processo de escolha da empresa, o projeto executivo da obra, origem dos recursos, notas fiscais dos pagamentos, além de considerações do ainda presidente Celso Barros sobre o suposto esquema com a advogada Cláudia Paranaguá.

Nada foi respondido.

Entramos em contato com Cláudia Paranaguá, que não quis se manifestar sobre ter ou não indicado a empresa do sobrinho e se beneficiado de acordo com o atual presidente da OAB-PI no pleito pela vaga correspondente ao Quinto Constitucional no Tribunal de Justiça do Piauí.

Nada foi respondido.

Na Riga Construtora, apesar de todas as mensagens terem sido visualizadas, do outro lado do Whatsapp o advogado Ravi Carvalho parou de responder ao se deparar com perguntas sobre existência ou não de licitação para a escolha da empresa, sobre suposto acordo entre a empresa, a advogada Cláudia Paranaguá e o atual presidente da OAB-PI, Celso Barros envolvendo financiamento da campanha de ambos. Também foi solicitado a empresa que apontasse alguma outra obra realizada por ela além desta da OAB-PI que não seja obra residencial.

Nada foi respondido.

A mudez de Celso, Cláudia e Victor é o tipo de silêncio que os ouvidos percebem quando tem coisa errada no ar.

O espaço continua aberto para manifestações.

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