INCOERÊNCIA É MAIS LETAL QUE A COVID

Fazer ou não fazer o “lockdown”? Eis a questão! A essa altura do campeonato da pandemia, não deveríamos mais estar falando nisso. A economia já sofreu demais até aqui. Em 2020 empresas fecharam, funcionários foram demitidos, profissionais autônomos passaram todo tipo de dificuldade. Mas infelizmente, fazer o lockdown não é uma opção, como pode parecer no início do parágrafo. É uma necessidade, consequência de incompetência e falta de planejamento.

Segundo o presidente da Fundação Municipal de Saúde, Gilberto Albuquerque, Teresina está com 100% de leitos de UTI ocupados. Isso significa que se hoje, quarta-feira (24), neste exato momento em que estas palavras estão sendo escritas, se uma única pessoa dentre as 900 mil que moram na capital tiver um quadro grave de infecção pelo novo coronavírus, vai precisar de improvisação para ser atendida. Se forem 10 pessoas, já teremos o caos.

Um teve medo de decidir, outro teve medo de manter a decisão: o lockdown não deveria ser necessário, mas nesse exato momento, é! (foto: Jailson Soares | politicaDInamica.com)

Fiscalizar vai dar jeito? Toque de recolher? O vírus é mais problemático entre onze horas da noite e cinco da manhã? Não, não é. A fiscalização prometida para os próximos dias não vai dar jeito na iminência do colapso.

O fechamento deveria ser total. Lockdown completo até que se reinstalem leitos suficientes para atender a demanda, isolamento obrigatório para que se reduza a transmissão descontrolada que a fiscalização feita até aqui não impediu.

TÁ FALTANDO O BÁSICO!

Músicos, donos de restaurantes, de academias, qualquer comerciante ou prejudicado nos últimos meses já deve estar odiando este texto até aqui. Mas para estes e para os demais: não se pode negar o óbvio. O vice-prefeito de Teresina, Robert Rios (PSB), que é secretário de Finanças e prefeito de fato, disse hoje numa emissora de TV: a Prefeitura tem dinheiro, mas não tem material de proteção individual no mercado para ser vendido. É, não em luva pra médico e enfermeiro, e alguém acha que tem leito?

A morte de uma única pessoa na fila das UTIs já seria uma tragédia, e evitar essa uma única morte, considerem que fosse alguém próximo, já não seria desculpa suficiente para o lockdown?

O fechamento não deveria ser uma opção por outro motivo: a falta de necessidade. Se tivessem planejado, ia faltar luva? Luva! O cara que diz ser prefeito de Teresina, o tal do Doutor Pessoa (MDB), em tese, é médico!

O governador Wellington Dias (PT) sabe que o certo é fechar. Fez um decreto que já era meia boca na segunda-feira. Por dez dias, escolas iam voltar pro virtual, comércios iam pro delivery e festas iam ser proibidas. Ainda assim, academias iam ficar abertas, restaurantes também. Já não seria suficiente. Mas ele cedeu, num efeito dominó de cobranças políticas e eleitorais de discursos feitos no ano passado e contrariados pelos fatos.

Pessoa e Robert sabem que o lockdown era necessário. Sábado Robert colocou em seu grupo de whatsapp que estava preocupado. Pessoa nem quis ir para a reunião do Comitê de Operações Emergenciais porque ia ter que descer do palanque. As redes socias foram agressivas com o discurso incoerente deles. Mas Wellington não ouviu nada diferente do que já tinha ouvido até aqui. 

Em 2020 o lockdown era inevitável pela surpresa da pandemia, que pegou os sistemas municipais e estaduais de saúde de calças curtas. Um ano depois, o lockdown é o retrato da incompetência de gestões que não souberam planejar, mas negar a necessidade urgente não é só um erro, é um crime doloso.

MENSAGEM ERRADA

“A culpa é da população”, aliás, não é argumento que se sustenta completamente. O que “a população” iria fazer depois de ver aglomerações de norte a sul nas eleições, que por aqui só terminaram no final de novembro? E vendo os hospitais sendo desmontados? “Acabou a pandemia!”, quem não iria pensar?

Sem falar na festa da vacinação. Por aqui, a propaganda que se fez foi toda errada. Na ânsia e na vaidade de surfar na imunização, tanto a Prefeitura de Teresina quanto o Governo do Estado erraram nas manchetes. Ao invés de focar na necessidade das pessoas aceitarem a vacinação – pois existem os negacionistas –, as propagandas dão a entender que muitas pessoas já foram vacinadas.

É só ver os vídeos que o secretário de Comunicação de Teresina, Lucas Pereira, espalhou nos veículos de comunicação, apresentadores dizendo que “já temos 25 mil vacinados”. Teresina, repito, tem 900 mil habitantes! Menos de 3% da população foi vacinada. Isso não representa nada do ponto de vista coletivo. Mas quem vê os jornalistas falando com aquela emoção toda pensa que tem vacina em todo posto pra qualquer um.

Incoerência é mais letal que a covid.

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