Fábio Abreu x Silas Freire

Em 2014 eles disputaram a maior parte do que é conhecido como “votos de opinião”. Estiveram na mesma coligação – a que elegeu o governador Wellington Dias. Um faturou a eleição e o outro bateu na trave. Mas devem protagonizar uma certa inversão de lógica: o titular caminha pra exercer apenas um ano de mandato e o suplente, permanecer mais tempo, 3 anos, no tapete verde da Câmara dos Deputados em Brasília.

Com mais de 80.839 votos, o capitão Fábio Abreu (PTB) foi eleito deputado federal, e o apresentador Silas Freire (PR), votado por 75.596 eleitores, ficou na primeira suplência. Pode-se dizer que os votos conscientes depositados na urnas a favor de Fábio Abreu e Silas Freire foram guiados pela preocupação com a (in)segurança do cidadão de bem no Piauí.

É senso comum entre os mais experientes na avaliação do eleitorado que, se um dos dois não tivesse concorrido, o outro teria tido a seu favor quase que a totalidade da soma desses votos. Mas as semelhanças terminam por aqui.

O capitão disputou seu primeiro mandato eletivo falando da necessidade de mudar leis federais que recolocavam nas ruas os bandidos que ele colocava atrás das grades quando comandava a equipe do RONE da Polícia Militar do Piauí. O comunicador, ex-deputado estadual, botou na conta dos criminosos juvenis o alarmante e crescente índice de violência do Piauí e prometeu não cessar esforços para reduzir a menoriade penal para pelo menos 16 anos.

SORTE E REVÉS

Então Wellington Dias, venceu a eleição e, em menos de uma semana, já se sabia do convite feito a Fábio Abreu para ser o novo secretario de Segurança do Piauí. A escolha do governador seguiu uma lógica simples: era preciso anunciar um nome conhecido e um perfil com aprovação popular suficiente para encerrar a “Era Robert Rios”. Além disso, Fábio Abreu serve a Dias em outro aspecto: alivia o peso da responsabilidade em garantir a segurança do cidadão piauiense e o risco do descrédito sobre os ombros do governador caso a violência continue incontida.

Aceitar o convite tirou a possibilidade de Fábio perseguir de perto, em Brasília, as mudanças das quais falou na campanha. E também o aproximou do desgaste junto ao eleitor que votou nele para mudar um pouco a cara do Congresso Nacional, e o fez sentar num barril de pólvora que é comandar a pasta da Segurança sem os investimentos necessários para se ter o mínimo de resultado positivo. Todos torcem pelo sucesso de Fábio, que não vem separada da redução dos crimes e da violência, claro. Mas as chances de ter sido uma escolha errada são enormes. Assumindo oficialmente a secretaria no início deste mês de março, Abreu só volta à Brasília, teoricamente, no final de março de 2018, o que no total lhe rende não mais do que um ano no exercício do mandato parlamentar.

Ao mesmo tempo, Silas Freire vai garantido por 3 anos para a Câmara: além do capitão, a esposa do governador, a deputada federal Rejane Dias (PT), também vai virar secretária de Estado, comandando a Educação. São duas situações que garantem a Silas a ida já no próximo mês e a permanência em Brasília até que seja hora, em março de 2018, dos secretários deixarem os cargos para tentar a reeleição. É tempo suficiente, aliás, para que Freire atue demonstrando independência dos Governos Federal e Estadual, sem dar qualquer satisfação a presidente ou governador.

O contexto estadual vai contra Fábio e o contexto nacional, a favor de Silas. Só para dar um exemplo, depois de anos curvada ao Planalto, a Câmara Federal é hoje comandada por um parlamentar independente, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), que já deu todos os sinais de que quer desengavetar todos os projetos polêmicos, como é o caso da redução da menoriadade penal, da qual Freire falou aos seus eleitores. As chances dela acontecer é real, tão real quanto a de Silas “sair bem na foto” junto aos opiniosos eleitores que votaram na esperança de uma segurança.

Outro ponto: as emendas impositivas já aprovadas este ano pela Câmara. Silas, caso siga apenas o que está escrito na Lei e não ceda a acordos partidários com os deputados afastados (e, hoje, está em condição de bater o pé), vai indicar emendas individuais e de bancada no Orçamento da União que somam mais de 20 milhões de reais para obras e projetos no Piauí, prestando conta com as suas maiores bases eleitorais e fortalecendo sua imagem em 2017 e 2018, ano da próxima eleição.

Política é assim, às vezes quem ganha, perde. Quem perde, ganha. 

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