Petrobras perde R$ 6,2 bi com corrupção e prejuízo soma R$ 21,6 bi

Após um longo período de espera e expectativa, a Petrobras finalmente divulgou nesta quarta-feira (22) o balanço auditado do exercício de 2014. A companhia registrou no ano passado um prejuízo de R$ 21,587 bilhões, contra um lucro de R$ 23,6 bilhões em 2013.

A Petrobras informou no balanço que a baixa contábil pelo esquema de pagamentos indevidos investigado pela Lava Jato foi de R$ 6,194 bilhões. Ou seja, essa foi a perda por corrupção, segundo a estatal.

Perdas de R$ 6 bilhões com corrupção
"O valor da baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente no ativo imobilizado oriundos do esquema de pagamentos indevidos descoberto pelas investigações da Operação Lava Jato (baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente) foi de R$ 6,194 bilhões", afirma o balanço.

A petroleira afirmou, no entanto, que não consegue identificar especificamente os valores de cada pagamento indevido. Ao calcular as perdas com corrupção, a estatal concluiu, "com base nos depoimentos tornados públicos", que o esquema de pagamentos indevidos funcionou entre 2004 a abril de 2012.

Sobre a metodologia utilizada, a companhia explicou que listou todas as empresas citadas nas investigações e os contratos assinados com as contrapartes. Depois, calculou o valor desses contratos, identificando todos os pagamentos feitos, e aplicou um percentual fixo de 3% sobre o valor total, para estimar os gastos adicionais sobre o "montante total dos contratos".

Dos R$ 6,2 bilhões perdidos com corrupção, segundo o balanço, a maior parte (55%) ocorreu na área de abastecimento, com baixa de R$ 3,326 bilhões. Gás e Energia respondeu por R$ 637 milhões das perdas. As áreas de Distribuição e Internacional tiveram baixas de R$ 23 milhões cada uma, ao passo que o Corporativo da companhia teve perda de R$ 99 milhões.
Outros R$ 150 milhões referem-se a pagamentos indevidos de empresas não citadas na Lava Jato.

Desvalorização de ativos em R$ 44 bilhões
No balanço auditado, a companhia reduziu o valor de seus ativos em R$ 44,3 bilhões, após ter reavaliado uma série de projetos, principalmente a Refinaria Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

Segundo a Petrobras, a desvalorização dos ativos foi calculada levando em consideração, sobretudo, 3 fatores: a queda nos preços do petróleo, a redução da demanda e o atraso em projetos de refino no país por um longo período.

'Capacidade de superação'
"Com a publicação dos resultados de 2014 auditados, a Petrobras transpôs uma importante barreira, após um esforço coletivo, que evidencia nossa capacidade de superação de desafios em um contexto adverso. Este exercício me trouxe ainda mais confiança de que iremos responder às questões estratégicas que nos defrontam", escreveu o presidente Aldemir Bendine, acrescentando que o o novo plano de negócios priorizará a área de exploração e produção de petróleo e gás.

O resultado do 3º trimestre também foi revisado pelos auditores, de um lucro de R$ 3,1 bilhões para um prejuízo de R$ 5,339 bilhões.

Maior prejuízo anual desde 1991
O prejuízo líquido de R$ 21,6 bilhões em 2014 é o maior desde 1991, quando a Petrobras registrou perdas de R$ 1,21 bilhão, segundo dados da Economatica, em valores corrigidos pela inflação.

Veja abaixo o lucro líquido anual da Petrobras nos anos anteriores:
2009: R$ 28,98 bilhões
2010: R$ 35,19 bilhões
2011: R$ 33,13 bilhões
2012: R$ 21,18 bilhões
2013: R$ 23,57 bilhões

Dividendos não serão pagos em 2015
Bendine anunciou também que não serão pagos dividendos para acionistas em 2015.

Reserva de R$ 2,4 bi para PDV
O balanço também aponta que a Petrobras reservou R$ 2,44 bilhões para um programa de demissão voluntária. Segundo Antonio Sergio, diretor de corporativo e de serviços, o plano de demissão voluntária já abrangeu 7.774 funcionários e serão mais 3 mil até maio de 2016.

Ações fecharam em alta
À espera do balanço, as ações da Petrobras encerraram o dia em alta, impulsionando o avanço do Ibovespa.

No ano, as ações ordiárias (com direito a voto) da Petrobras acumulam alta de mais de 30% e, as preferenciais (com prioridade na distribuição de dividendos, mas sem direito a voto), mais de 38%.

Em valor de mercado, a petroleira ganhou mais de R$ 44 bilhões em 2015, alcançando mais de R$ 171 bilhões no fechamento da véspera, segundo a Economatica. Comparado aos R$ 295 bilhões que a empresa valia em agosto do ano passado (R$ 295 bilhões), porém, a companhia ainda registra um encolhimento de mais de 40% na bolsa.

Importância da divulgação
A divulgação do balanço auditado é apontada como tarefa essencial para o resgate da credibilidade da Petrobras e para que a empresa consiga captar recursos e atrair investidores. Caso fosse novamente adiada, parte dos seus credores poderiam pedir o vencimento antecipado de suas dívidas o que, em tese, poderia levar a empresa à insolvência e exigir uma operação de injeção de capital pelo governo.

A divulgação chega depois de uma série de adiamentos e dificuldades para calcular como o esquema de corrupção envolvendo a estatal e investigado pela operação Lava Jato afetou o patrimônio da petroleira.

Estimativas anteriores
Em janeiro, a Petrobras divulgou um resultado não auditado para o terceiro trimestre (lucro líquido de R$ 3,087 bilhões) e uma estimativa preliminar de que seus ativos estariam superestimados em R$ 88 bilhões. A conta, porém, não distinguia quanto desses recursos teriam sido desviados e quanto diriam respeito a problemas na execução de projetos e mudanças no câmbio.

Na ocasião, a empresa atribuiu a ausência dos dados sobre as perdas com corrupção à "impraticabilidade" de quantificar esses dados de forma correta. A metodologia para fazer esse cálculo precisa atender às exigências de órgãos reguladores não só do Brasil (CVM), mas também dos Estados Unidos (SEC), onde papéis da empresa são negociados.

Para alguns analistas, o valor muito alto e a forma como a estimativa foi divulgada teriam tornado insustentável a posição da então presidente da empresa, Maria das Graças Foster, que foi substituída pelo ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine.

Na segunda-feira (20), o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que a apresentação do balanço da Petrobras seria "mais um passo" na reconstrução da empresa.

Investigações
Segundo informações da PF, de procuradores do Ministério Público e de delatores do caso, executivos da estatal indicados por partidos políticos conspiraram com empresas de engenharia e construção do país para sobrevalorizar refinarias, navios e outros bens e serviços da Petrobras. Os valores excedentes dos projetos teriam sido desviados para executivos, políticos e partidos.

Deflagrada em 17 de março de 2014, a Operação Lava Jato desmontou um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que, segundo as autoridades policiais, movimentou cerca de R$ 10 bilhões.

O Ministério Público Federal do Paraná já ofereceu denúncias contra mais de 30 investigados e os procuradores anunciaram que irão pedir ressarcimento de ao menos R$ 1,18 bilhão por desvios na empresa.

Fonte: G1

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