Esquizofrenia, democracia e verdades

Vivemos um período muito especial de nossa conturbada história republicana. Observamos incrédulos ou não o fim de um discurso, de um sonho político. O que assistimos não é apenas mais um escândalo político de corrupção, já vivemos muito e superamos, estamos aqui. Não vivemos mais uma crise política, já vivemos muitas, superamos e estamos aqui. Vamos vencer enquanto nação mais esse momento, no entanto, temos aqui a paralisação de um sonho, um sonho de uma política que respeitasse os critérios éticos e agora mais uma vez utópicos, de uma fase política que fosse descrita pela efetivação de um ideal.

Nos últimos 30 anos, vencemos um regime ditatorial, vencemos uma inflação inesquecível e dolorida, promulgamos uma constituição curada como cidadã, organizamos um plano econômico que nos possibilitou estabilidade e com isso implatamos uma política de distribuição de renda que vinha nos possibilitando dignidade. No entanto, como um dia afirmou Maquiavel “O difícil não é conquistar o poder e sim manter o poder”, mesmo em tal recado de Maquiavel, superar os 500 anos de existência, ainda assim caímos na armadilha e hoje tudo aquilo que foi idealizado foi jogado na lata de lixo pela ganância, a promiscuidade do poder e o sentimento de impunidade que reina na nação chamada Brasil.

É de Hobbes a afirmação de que “a desgraça dos que não se interessam por política é serem governados pelos que se interessam.” Nosso povo sempre foi responsabilizado por ser passivo, por ser público e não povo. É realmente preciso confessar que muito disso é verdade, que nosso cotidiano foi sempre o de gostar de eleição e não de política, de fender o que é conveniente e não o ideal para uma coletividade. Parece até que ao debater política, muitos são os mundos, “os Brasis”, um sentimento esquizofrênico domina os conceitos políticos brasileiros, a verdade é apenas delírios ou alucinações e agora a discussão não é se somos público ou povo e sim somos de fato apenas uma massa de manobra.

É preciso buscar uma reflexão esperançosa, é preciso acreditar que do caos ainda há de vir a saída. Nas manifestações temos três tipos de manifestantes: os alienados que nem sabem por que gritam, lembram muito os homens que vivem na caverna de Platão; temos os aproveitadores, que a qualquer momento defendem as maiores insanidades e temos os conscientes, esses quase sempre em um número menor e que parecem gritar no deserto.

O poder, que tanto queremos para servir a toda uma coletividade de cidadãos e não poucos que se aproveitam da mesma, precisa ser mais do que sentido, precisa ser conhecido. É preciso saber ver, diferenciar a aparência da verdade, é preciso revolucionar a mente e a consciência e rapidamente e individualmente buscar uma prática que novamente nos permita o direito de sonhar e acreditar.

Se um dia a esperança venceu o medo, é preciso agora que a dignidade, a honestidade e o respeito aos sonhos de uma nação não sejam tratados como bolhas de sabão. A política é, sobretudo, uma atividade educadora e pedagógica nesse sentido, lutar ainda é a grande saída.

A política é a arte de compreender a si e ao outro, não é espera de atuação apenas dos políticos, dos eletivos, é sim obrigação do cidadão que precisa se libertar e agir na pureza da idéia de que ainda é possível escrever outra história. 

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