Quando morre uma vítima de covid-19 na fila por um leito ou sem medicação adequada na capital, a culpa não é apenas do prefeito Doutor Pessoa (MDB). Essa tragédia que está crescendo nas últimas semanas encontra solo fértil na mediocridade dos vereadores de Teresina. No dia em que as mortes quebraram recordes, acreditem, os parlamentares teresinenses aprovaram a "Semana da Árvore" e estacionamento livre em shoppings para veículos do Instituto de Metrologia do Piauí (IMEPI), dentre outras besteiras aleatórias.
No último dia 17 de março, o Política Dinâmica publicou uma matéria sobre a falta de pelo menos 34 itens nos estoques da Fundação Municipal de Saúde de Teresina (FMS). Hoje (26), o site The Intercept Brasil publicou também uma matéria sobre esse caos, apontando que doentes com covid-19 podem morrer sem remédios porque o prefeito Doutor Pessoa não quis comprar -- ou não teve a responsabilidade de comprar -- esses medicamentos na hora certa. A matéria é assinada pela jornalista Nayara Felizardo.
Enquanto isso, na Câmara Municipal de Teresina, vereadores dão um show de irrelevância produtiva e conivência com o colapso da Saúde na capital. Na pauta da última quarta-feira (24), havia 9 projetos do vereador Dudu (PT), dentre os quais se destacam a "Semana da Árvore", a "Semana da Economia de Luz", a obrigação de se colocar lixeiras nas paradas de ônibus e, pasmem, um projeto que libera parada livre em vias públicas e estacionamento liberado em shoppings para veículos do IMEPI. Para quem não sabe, o IMEPI é um órgão do Governo do Estado cuja indicação na gestão de Wellington Dias foi feita exatamente pelo vereador Dudu.
Dudu ainda se juntou com as vereadoras Thanandra Sarapatinhas (Patriotas), com a vereadora Pollyana Rocha (PV), Teresinha Medeiros (PSL) e com o líder do prefeito na Câmara, Renato Berger (PSD) para apresentar o Dia Municipal de Incentivo à Adoção de Animais e uma feira em Teresina. Já os vereadores Roberval Queiroz (DEM) e Euzuila Calisto (PT) entenderam que era hora de reconhecer a utilidade pública de duas associações de moradores.
Agora se pergunte: será que esse pessoal sabe que estamos no meio de uma pandemia? Algum desses projetos é mais importante nesse momento do que fiscalizar e garantir que as pessoas de Teresina tenham o melhor serviço de saúde possível durante a crise em que estamos metidos?
A crise aumenta porque não há nem vereadores de oposição. Por exemplo: o segundo vereador mais votado das últimas eleições, Evandro Hidd (PDT) fazia parte do primeiro escalão da gestão de Firmino Filho, é afilhado de Charles Silveira, que presidiu a Fundação Municipal de Saúde e tinha seu pai como diretor da FMS. Nenhum outro parlamentar de Teresina tinha tanto suporte e era tão entranhado na gestão de Firmino quanto ele.
E Evandro não diz nada. Deve haver algum motivo pra isso. Não cumpre seu papel porque talvez ache que não tem diferença entre as gestões, talvez porque tenha feito um acordo com o vice-prefeito para manter seus terceirizados e comissionados, talvez tenha sido gravado e está sendo chantageado, talvez porque se ache fraco demais -- muita gente acha! --, talvez porque simplesmente não se importe com as mortes em Teresina. Não dá pra saber porque ele é tão inerte, dá apenas para perceber a inércia.
Os vereadores de Teresina caminham cambaleantes em cima da linha entre despreparo e perversidade.
A pandemia agradece.
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