Memória Fotográfica: calçando o palhaço e fazendo graça

Um simples par de sapatos de palhaço. Memória fotográfica e afetiva. Os sapatos abaixo já estiveram em muitos pés de atores fazendo papéis de personagens diversos. Estreou no Theatro 4 de Setembro, em 1994. E lá se vão 22 anos. A peça era "O Agente Tetra Entra em Campo". No elenco: Dirceu Andrade, Amauri Jucá, Wílson Silva, Marcel Julian, Roberto Portela, Pedro Costa e eu. Direção de Arimatan Martins.

Foi minha estreia no teatro. Calçando estes sapatos, fiz um personagem que abria a peça, conduzia a sonoplastia e fazia intervenções com frases que pontuavam o espetáculo em uma mesa de som atrás da plateia, no primeiro piso. Era o Clownsom. Uma mistura de inglês e português que descrevia o personagem, que era um arremedo, na verdade. Mas foi muito significativo para mim. O enredo da peça tinha como centro da trama o personagem Zé Bandeira, desenvolvido por Dirceu Andrade.

O Brasil tinha ganhado a Copa do Mundo nos EUA. A taça do mundo estava em tournée pelo Brasil, visitando as capitais e principais cidades. Zé Bandeira, um personagem criado para peças publicitárias das Lojas Jelta, fazia o anti-herói, torcedor apaixonado da seleção brasileira, justo, honesto, simpático e de grande apelo popular.

Foi acusado de roubar a taça. E estava sendo procurado pela polícia. Na verdade, era um clone (Amauri Jucá), desenvolvido em laboratório por um cientista do mal (Marcel Julian). Zé Bandeira e seu fiel escudeiro, Ontóim (Pedro Costa), tinham que encontrar o verdadeiro culpado e entregá-lo às autoridades. Ainda haviam mais dois personagens clownescos, interpretados por Wil e Roberto. Arrumavam objetos de cena e cenários, totalmente feitos por malas de todos os tamanhos. Era um espetáculo infantil cheio de truques e muito divertido. Circulou bastante.

O sapato ainda serviu durante muitos anos ao personagem Goiabinha, o palhaço da peça "Raimunda Pinto, Sim senhor!", de Francisco Pereira da Silva, montada pelo grupo Harém. Marcel Julian e Amauri Jucá fizeram o personagem e também usaram o sapato. De pé em pé, muitas ribaltas foram caminhadas pelos pés de personagens por um único par de sapatos. Uma bela e longa estrada. Certamente já foi aposentado, consumido pelos anos e muitas andanças. Fiz a foto de um dispositivo móvel.

Os personagens Clowsom e Goiabinha andaram com este sapato de palhaço (Willian Tito)

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