O QUE A HOSTILIDADE CONTRA WELLINGTON DIAS E MARCELO CASTRO MOSTRA A RESPEITO DA OPINIÃO PÚBLICA NO PIAUÍ

Foto: Jailson Soares | PoliticaDinamica.com

Por Ananda Oliveira e Marcos Melo

Em meio a delações, votação de importantes (e impopulares) reformas e todo o cenário político que se desenha a partir disso, a sociedade civil tem se mobilizado, como vimos na Greve Geral, ocorrida no final de abril, e em tantos outros movimentos Brasil afora. A classe política tem aprendido, a duras penas, que não mais é tão fácil obter a simpatia e apoio da opinião pública.

No Piauí, apenas esta semana dois fatos no mínimo curiosos ocorreram nesse sentido e comprovam esta tese. O governador Wellington Dias (PT) foi hostilizado por alunos da Unidade Escolar João Martins, no município de Marcos Parente. O petista chegou ao local acompanhado do deputado federal Assis Carvalho (PT) e do deputado estadual Georgiano Neto (PSD) e sob vaias precisou deixar o local. Os alunos protestavam contra a falta de professores naquele estabelecimento de ensino.


O governo se pronunciou por meio de nota, onde afirma que as acusações não são verdadeiras.

ESCLARECIMENTO

A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informa que não há falta de professores de matemática na Unidade Escolar João Martins, no município de Marcos Parente. A Secretaria esclarece que nos locais onde não existem professores graduados em determinada área, como matemática, por exemplo, as aulas são ministradas via satélite, por meio de mediação tecnológica - Canal Educação e oscilação de energia estaria gerando problema nessa transmissão. A Seduc enviará uma equipe técnica para avaliar a situação e, se necessário, fará contratação de professores, através de teste seletivo.

O deputado federal Marcelo Castro (PMDB) também foi surpreendido por manifestantes quando desembarcava no aeroporto de Teresina. O peemedebista é criticado por votar a favor das reformas trabalhista e previdenciária, o que seria "contra os direitos do trabalhador". Durante o protesto o parlamentar acabou chutando um dos manifestantes. A reportagem não conseguiu contato com o deputado Marcelo Castro para comentar o caso, mas à revista Veja ele afirmou que agiu "instintivamente".

Muito se fala que a sociedade brasileira parecia estar adormecida desde as Diretas Já - onde o povo pedia em uníssono a volta das eleições diretas - e os caras-pintadas - que pedia o impeachment do então presidente Fernando Collor. O que os dois episódios - protestos contra Dias e Castro - tem em comum é justamente esse espírito de que as pessoas não aceitam mais ser "massa de manobra". A favor ou contra, as pessoas se manifestam e querem mostrar sua opinião, apoio ou descontentamento.

Para o bem e para o mal, a internet e as redes sociais tem um papel fundamental nisso. Sem elas muito provavelmente a maioria das pessoas que não estava presente ali sequer saberia destes fatos.

Outro ponto importante para entender a atual conjuntura é a baixa confiança nas instituições, conforme afirmou ao Política Dinâmica o cientista político Robert Bandeira. 

"Podemos observar que há uma relação entre as agressões contra os políticos no Brasil com a baixa confiança nas instituições, como os partidos políticos, o Congresso Nacional e os políticos de forma geral. Em grande parte isso se explica pela midiatização de constantes escândalos envolvendo políticos e partidos. Em particular, com a Operação Lava Jato e seus posicionamentos acerca das reformas trabalhista e da Previdência", pontuou.

Uma pesquisa recente realizada pelo estudo global Edelman Trust Barometer dá conta de que 62% dos brasileiros não confiam nas instituições do país. É um percentual bastante expressivo para um país que tem o Estado envolvido sobremaneira no cotidiano das pessoas. Outra pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pela OAB, mostrava em 2015 que os partidos políticos, o Congresso Nacional, a Presidência da República e os ministérios são, nesta ordem, as instituições menos confiáveis entre os brasileiros.

Os protestos e as manifestações mais agressivas apontam para uma realidade em que que os políticos não podem esperar apenas aplausos da população. É preciso muito mais para conseguir obter a confiança do povo. Infelizmente, vemos que não há muito esforço neste sentido.

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