“O PT NÃO VAI ACABAR”, DIZ REGINA SOUSA

Senadora Regina se surpreendeu quando a proposta de votação em duas etapas foi aceita pelo ministro Lewandowski. Foto: Jailson Soares/PoliticaDinamica.com

Por Ananda Oliveira, Francicleiton Cardoso e Marcos Melo

A senadora esteve nessa sexta-feira (02), no Palácio de Karnak, para reunião com o governador Wellington Dias (PT-PI). Em entrevista falou sobre o processo que move contra a jornalista Joice Hasselmann, sobre o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e suas consequências e os novos caminhos do PT a partir de agora.

Como a senhora avalia o PT no Piauí?
Senadora Regina Sousa: o PT no estado está bem. Estamos em um processo eleitoral, queremos fazer pelo menos  40 prefeitos. Estamos andando, o PT não vai se acabar, ninguém comemore, o PT não vai acabar.

Existe uma imagem de que o PT vai eleger pouco, por causa da imagem do partido e que essa decisão vai refletir na votação.
Claro que reflete! Foi toda uma campanha anti-PT que a grande mídia fez, principalmente, a Globo. A campanha não foi crime de responsabilidade, foi anti-PT a campanha toda. Pode olhar os discursos, “o PT fez isso ou aquilo”, não falava Dilma, não falava governo. É uma campanha anti-PT por tudo que ele fez nesse país. A mudança social, o perfil social desse país mudou e a elite não aceita o filho da senzala se formando em Medicina junto com os filhos da casa grande. É postura mesmo, é concepção, é ideológico. É aquilo que eu falei: a disputa entre o Bolsa Família e a Bolsa de Valores. A disputa entre um país para todos e um país para alguns. Muita gente está feliz porque vai se dar muito bem no governo Temer. As cotas fizeram com que 66% dos alunos das universidades federais hoje já são da classe D e E. O pobre chegou e isso eles não aceitam. Esse processo é irreversível, porque as pessoas que conseguiram não vão permitir que voltar, andar pra trás, não vão. Está aí o pessoal do Ciência sem Fronteiras já brigando, porque acabaram o programa, tinha gente que estava preparado já para ir pra Espanha no ano que vem e não vai mais. Acha que esse pessoal não vai reagir? Claro que vai.

Como a senhora avalia esse primeiro momento pós-impeachment?
A gente tem que tomar as providências necessárias, nossos advogados continuam trabalhando, a gente está com esse período agora de folga, porque o Renan Calheiros (PMDB/AL) - presidente do Senado Federal - cismou de não ter sessão segunda e terça (porque está viajando), acho que ele tem medo que o Jorge Viana (PT-AC) - vice-presidente do Senado - vá votar alguma coisa que ele não queira. Então, ele simplesmente disse que não tem sessão e a gente está se comunicando mais só pelas redes. Os advogados tem muitas ações e estão fazendo lá o seu papel. Eu acho que as manifestações também são normais, já se esperava, está tendo muita manifestação. Infelizmente, tem a infiltração daquele mesmo povo que se infiltrava na manifestação dos amarelinhos, alguns vândalos estão fazendo isso. Mas as manifestações estão bonitas, as pessoas na rua protestando contra o impeachment, porque foi um golpe, não tem como negar. Depois da votação, a TV pega um senador que votou a favor do impeachment e ele diz “nós sabemos que não tem crime de responsabilidade”, [senador Acir Gurgacz (PDT-RO)] disse desse jeito na entrevista dele. Um homem que votou com convicção de que ela tinha que ser cassada e dá uma entrevista dessas, isso enseja o quê? Não tem crime de responsabilidade! É vergonhoso o que eles estão fazendo, não tem crime.

No dia da votação, como se comportavam os senadores dentro do plenário? 
até que alguns faziam pequeno tumulto, mas a votação foi normal. Até no período de discursos, que foi até a madrugada, todo mundo usou seu tempo, normalmente. O julgamento estava presidido pelo [ministro Ricardo] Lewandowski e o pessoal se contém mais. Se fosse o Renan, poderia ter acontecido diferente, porque os senadores se sentem iguais, mas com o presidente do Supremo presidindo as pessoas ficaram mais comedidas. Então, foi muito normal.

A senhora acha que o impeachment terá consequências para o próprio Partido dos Trabalhadores, como um esvaziamento ou alguma coisa do tipo?
Consequências sempre têm porque o partido estava no poder e, de repente, é a piada dele, isso tem consequências. Agora na essência do partido, não. O PT existe independente de qualquer coisa, esse que é o problema que esse pessoal não engole. É um dos poucos partidos que têm raiz, que tem essência, que continua independente de qualquer coisa. Quantos baques nós já sofremos na vida? Não é o primeiro. Esse foi o mais o forte, mas não é o primeiro.

A direita tem dito, desde o primeiro governo do PT, que o partido daria um golpe comunista no país. Como a senhora vê um golpe contrário, da direita no país?
Pois é... Quando alguém anuncia uma coisa assim, acontece mesmo o inverso. Eu estou preocupada que o PMDB está se acostumando a chegar no poder central sem ser eleito. Três presidentes da República que não foram eleitos pelo PMDB. Se isso vira moda... Acho que por isso o PMDB, apesar de ser grandão, não é um partido de consistência. Você já viu, já teve um racha entre eles lá, na hora da votação dos direitos políticos, eles racharam porque não conseguem ser um partido coerente, que vote unido, igual. E não vai conseguir agora.

Você acha que essa aliança PSDB, DEM e PMDB vai longe? Ou pode fracassar antes de terminar o governo Temer?
O que une eles muito é o sentimento anti-PT, isso une, mas as ações... Você viu, terminou a votação e eles começaram a se atirar uns nos outros. O DEM já disse que vai ficar independente, porque discorda... E o pacote de ajustes que ele está mandando, nem o PSDB e nem o DEM concordam. Nem nós concordamos. Então estaremos juntos combatendo o pacote do Temer. A única coisa que os uniu foi no sentido de derrubar a Dilma.

Uma coisa polêmica é o sistema de votação utilizado no julgamento. A grande discussão é se aquilo foi legal ou ilegal, se está baseado em princípios constitucionais. Na concepção da oposição, há consistência jurídica ali?
Tanto há que aquilo foi estudado antes, nas reuniões com os nossos advogados. Todos os dias a gente se reunia para ver o que seria feito no dia seguinte, que questões de ordem levantaríamos. Nós levantamos não sei quantas questões de ordem, perdemos a maioria mas algumas o Lewandowski acatava. Então era o nosso papel levantar questões de ordem. E no dia da votação, vamos fazer o quê? Levantar a questão de separar a votação e o nosso advogado fundamentou, tanto que o próprio Lewandowski fundamentou um bocado de coisas ali. É controverso, mas não dá pra dizer: é ou não é. Por que dizer que não teve pena, perder o mandato não é uma pena? “Ah não, a pena é a perda dos direitos políticos”. Não, a pena é a perda do mandato, é a maior pena que alguém pode ter: você ser gestor e perder seu mandato. A outra é consequência. São duas penalidades, achou-se por bem ter só uma. Nós discutimos muito isso, nosso advogado fundamentou bem e aí acabou. Agora, a gente acreditou que não iria passar, como quase todas as nossas questões de ordem não passaram, mas de repente parece que alguém se sentiu muito culpado, daí “não, vamos devolver o direito político dela”.

O ministro Gilmar Mendes fez duras críticas à essa posição assumida pelo Senado, inclusive meio que jogou a culpa em cima do Ricardo Lewandowski, dizendo que que ele pode ter agido politicamente. Na sua concepção, a crítica dele tem procedência?
Não, o Lewandowski não tem nada a ver com aquilo. Na hora das posições foi que ele argumentou, ele fez uma argumentação que a gente tem que admitir que levou as pessoas a votarem a favor. Acho que ele e Renan ajudaram que a gente ganhasse aquela proposta, não sei se com outras intenções do Renan para o futuro. Mas o Lewandowski não, ele fundamentou dentro da lei, dentro do regimento do Senado. Ali era o Senado que era jurado, o ministro estava só presidindo.

Essa votação favorece o Eduardo Cunha?
Certamente, eles vão alegar isso agora. Só que o Eduardo é ficha-suja. Dilma não é. Então, ele pode se safar por um lado, mas pelo outro não tem jeito.

Senadora diz que não houve acordo entre PT e PMDB na “votação fatiada” do julgamento de Dilma. Foto: Jailson Soares/PolíticaDinâmica.com

Houve acordo do PT e do PMDB para que isso fosse aprovado como a imprensa vem divulgando?
Nunca, nunca teve esse acordo. Esses dias o PT e PMDB estava às turras. Você viu a postura do Renan no primeiro dia, tentou apagar o incêndio e jogou gasolina. Nós não temos entendimento com o PMDB nessa questão, nunca teve. Ali foi uma decisão nossa de entrar, nós não sabíamos é que ganharíamos. E aí se eles perceberam, se o Renan articulou o PMDB para perceber alguma brecha para o futuro, porque eles estão todos encrencados, pode ter sido. Mas nós mesmos negociar com eles? De jeito nenhum. Nós jogamos e colou. Levantamos a questão porque já estava decidido muito antes, em nossas reuniões, a gente se reunia todo santo dia, antes de ir para o plenário para discutir as coisas, o que nós vamos fazer, quem vai defender, quem vai acusar, sabe? Então, deu certo, mas eu acho que é mais um mea culpa de alguns que sentiram que estava pesado demais, que sentiram como o Acir Gurgacz que não tinha crime de responsabilidade. Foi como se fosse um aliviada, daqueles que não estavam convencidos do crime de responsabilidade, mas por um oportunismo político estavam votando. Então acho que esses, na segunda etapa, pensaram “fiz demais, vou pelo menos aliviar”.

O próprio Renan defendeu isso...
É, ele aliviou ali na hora, fez quase que a defesa, influenciou votos. E eu acho que ali também já era dividindo, mostrando para o Temer que o PMDB não é dele e que no Senado o Temer não vai mandar. Pra mim, ali também foi um recado.

A senhora considera positivo esse posicionamento do Renan?
O Renan como presidente até o dia desse julgamento teve uma postura muito boa, de diálogo, de conversar, de não pautar nada sem conversar com as lideranças. Mesmo o PT sendo minoria, se o PT discorda, ele tenta construir primeiro antes de colocar qualquer coisa em pauta. Nesse julgamento, não. Aí ele vestiu a camisa do PMDB e se manifestou. Mas eu acho que aquela manifestação dele no julgamento já foi um retorno ao que ele é como o presidente e eu acho que é correta a postura dele nesse cargo. Até agora a gente não tinha queixa dele como presidente do Senado e eu acho que ele vai retomar essa postura. Ao mesmo tempo que a gente sabe que tem uma disputa política dentro do PMDB e o Renan não quer perder, então ele mandou o recado.

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