“Defendo Constituinte pela Reforma Política”, diz João de Deus

Líder do governo de Wellington Dias avalia o cenário político nacional e local

por Francicleiton Cardoso

Edição Lídia Brito

O deputado estadual João de Deus (PT), líder do governo na Assembleia Legislativa do Piauí e nono suplente na casa, fruto do secretariado do Governo do Estado, falou em entrevista exclusiva sobre a situação das crises políticas e econômicas que têm alarmado os ânimos dos brasileiros.

Para ele, é preciso buscar saídas para os problemas econômicos e fazer uma Reforma Política séria no país para que o Estado volte a respirar com mais segurança. Duro nas críticas ao governo de Firmino Filho (PSDB), o parlamentar disse não acreditar na reeleição do prefeito de Teresina.

Ele ainda criticou a doação de verbas para campanhas por empresas e disse estar ciente de que as financiadoras sempre querem algo em troca dos políticos. Crítico do que ele chamou de “um sistema político viciado”, João de Deus acredita ainda que a corrupção sempre vai existir. A seguir, veja mais sobre a opinião do deputado na entrevista completa.


PD - Como o senhor avalia a situação de crise do Brasil?

João de Deus - Existe uma crise econômica, que não é só no Brasil, mas no mundo inteiro. Ela afeta os países de acordo com a realidade de cada um. Aqui no Brasil ela é agravada por conta da crise política e a crise política vem desde a última eleição, porque existe uma maioria dentro do Congresso Nacional que diverge da presidenta Dilma Rousseff e insiste em cassá-la. Você imagina o que é isso. A sociedade vai lá e diz: eu quero a Dilma como presidenta, mas o congresso diz que não quer. Ambos foram eleitos pelo povo. Você imagina; a democracia do nosso país hoje nos remete à possibilidade de rediscutir o sistema político brasileiro. Inclusive com a reforma política, porque não é concebível que em um governo como nosso, o eleito não tenha as mínimas condições para trabalhar. Tem que ser a vontade do povo, afinal, ela foi eleita. É ela mas poderia ser outro. Temos um sistema político que caducou no Brasil. Temos mais de 50 partidos políticos. Como você consegue realmente dialogar com um parlamento que é muito fragmentado. Daí vem a ideia do impeachment, que não tem base legal.

Deputado é um dos principais aliados do governador Wellington Dias

PD - O senhor aponta a Reforma Política como solução?

João de Deus - Como pensar isso se dependermos dos parlamentares eleitos para fazer uma reforma política, ela não sai. O cidadão olha para ele e diz: ‘eu fui eleito nesse sistema, porque que eu vou sair dele’. Tem alguns com dez, outros com cinco mandatos. Para eles esse sistema é bom. Ele está pensando mais nele que nos interesses da nação. Dessa forma só há um jeito de termos uma reforma política: se fizermos uma Constituinte exclusiva, onde se abre uma discussão, para fazer a reforma. As pessoas eleitas especificamente para esse fim. Só assim para fazer uma nova eleitoral. Só assim pode funcionar. Se isso também não for sabotado pelas forças políticas. Eu defendo essa tese e outros deputados também. É uma forma de fazer uma discussão sobre esse item. Afinal, essa é a reforma mais importante, porque todas as outras dependem dela. O sistema político está viciado e a primeira que tem que ser feita é a Reforma Política. Mas os políticos não querem fazer, nesse sentido, tem que haver uma Constituinte, escolhida pela população.


PD - A corrupção presente no sistema político é fruto de quê? Como o senhor pensa isso?

João de Deus - A corrupção sempre existiu e sempre vai existir. Ela é alimentada pelo sistema político, que permite que as campanhas sejam patrocinadas por empresas. Quem é que é ingênuo para achar que uma empresa vai fazer doação para não querer nada em troca. Todos querem algo em troca. Isso acontece no Congresso Nacional. Há por exemplo a Bancada da Bala, lutando pela liberação do porte. Os interesses do setor industrial estão em cheque e aqueles que financiam a bancada, querem que defendam seus interesses. Essas distorções ocorrem porque a Justiça Eleitoral não consegue fiscalizar. É preciso limitar isso com regras claras.

Deputado tem boa comunicação com os demais parlamentares na Assembleia

PD - Como o senhor avalia os governos petistas da presidenta Dilma e Wellington Dias?

João de Deus - O governador Wellington Dias faz um bom governo apesar da crise e da dificuldade. Tem coisas que ele não abre mão, como tratar os servidores públicos com prioridade. Apesar da crise, e das dificuldades, o governador tem feito um esforço para o Piauí não atrasar salários. Além disso, faz esforços para aumentar investimentos. Agora mesmo, está lutando para garantir empréstimos importantes para o Piauí. Esse recurso nesse momento de crise é muito importante. Ele tem uma bagagem política também, teve vários cargos, foi sindicalista. A presidenta Dilma não passou por essas etapas. Ela já entrou como presidenta da república. E obviamente que ela tem algumas dificuldades nesse processo político de entendimento. Acho que aí é que está o problema maior entre ela e o Congresso. Mas, ela foi reeleita. O primeiro governo dela foi bom, e ela foi reeleita. A cassação dela não pode acontecer só pela vontade de quem não votou nela. Tem que ser respeitada a maioria. Algumas mudanças que ela tem feito tem melhorado muito. Ela tem sentado com os governadores também para aprovar uma pauta para buscar a retomada do crescimento econômico do país. Tudo isso facilitará muito. Um conjunto de medidas mesmo. Esses programas se encarregam de fazer a Economia crescer. Eu aposto que é possível sair desta crise.

PD - Como o senhor avalia o governo do prefeito Firmino Filho, aqui na Capital?

João de Deus - É muito difícil fazer uma avaliação de um administrador assim. As pessoas podem entender que eu estou fazendo uma avaliação mais política como petista. Mas eu fui vereador de Teresina e fui oposição dele. Depois estivemos juntos na Assembleia. Acho que o PSDB tem feito uma administração muito parecida com aquela que eles faziam há vinte anos atrás. Acho que isso cansou a população. Essa mesma preocupação o governo Wellington Dias tem que ter também, que já está na terceira administração. Não podemos ficar só no feijão com arroz, por isso o governador tenta sempre coisas novas. É essa situação de cansaço no modelo administrativo. Mas o prefeito tem criatividade e é um bom administrador. Mas se ele não apresentar novidades, eu tenho certeza que ele perderá a eleição.

PD - E as eleições na Capital? O senhor vê que perspectivas?

João de Deus - Temos dois nomes contra o Firmino que aparecem com força, que o do Dr. Pessoa e do jornalista Amadeu. Mas não sei muito bem, afinal, nenhum dos dois já participou de eleições majoritárias. O Firmino não, ele já teve várias campanhas majoritárias. Por isso eu acho que vai depender muito do processo da própria campanha. Mas as pesquisas têm mostrado um cansaço no modelo administrativo do PSDB e eles tem que fazer algo diferente.

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