Doadores de campanha estão na lista do HSBC

Ao menos 16 pessoas que doaram mais de R$ 50 mil na campanha eleitoral de 2014 também aparecem na lista dos brasileiros que eram correntistas do HSBC na Suíça em 2006/2007. Juntas, elas deram R$ 5,824 milhões para políticos de 12 partidos. Esta é a conclusão do cruzamento entre as pessoas físicas que mais dinheiro doaram às campanhas com os registros do HSBC vazados por um ex-técnico de informática do banco. Consultados, os doadores negaram irregularidades. Dois deles apresentaram provas de que declararam suas contas às autoridades brasileiras.

Ao todo, 142.568 pessoas físicas fizeram doações para campanhas políticas no ano passado — nem sempre na forma de dinheiro, mas também como serviços ou produtos, que foram precificados na prestação de contas à Justiça Eleitoral. Um total de 976 doaram R$ 50 mil ou mais, somando uma ajuda de R$ 170,6 milhões para a disputa eleitoral de 2014.

Neste grupo, O GLOBO, em parceria com o UOL, encontrou 16 nomes que também aparecem nas planilhas do SwissLeaks. Desde a última quinta-feira, o jornal e o portal publicam uma série de reportagens que analisa os dados bancários vazados em 2008, numa iniciativa do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês).

CONEXÃO COM PARAÍSOS FISCAIS

Os 16 nomes encontrados foram os de Alceu Elias Feldmann (Grupo Fertipar); Arminio Fraga Neto (ex-Banco Central e atual Gávea Investimentos); Benjamin Steinbruch (CSN); Carlos Roberto Massa (o apresentador Ratinho, do SBT); Cesar Ades (Banco Rendimento); Cláudio Szajman (Grupo VR); Edmundo Rossi Cuppoloni (da incorporadora 5S); Fábio Roberto Chimenti Auriemo (empreiteira JHSF); Francisco Humberto Bezerra (ex-sócio do BicBanco); Gabriel Gananian (Steco Construtora); Hilda Diruhy Burmaian (Banco Sofisa); Jacks Rabinovich (CSN); José Antonio de Magalhães Lins (Axelpar); Miguel Ricardo Gatti Calmon Nogueira da Gama (advogado, OAB-SP); Paulo Roberto Cesso (Colégio Torricelli) e Roberto Balls Sallouti (BTG Pactual).

Ter uma conta na Suíça ou em qualquer outro país não é ilegal, desde que seja uma operação declarada à Receita Federal e informada ao Banco Central.

As doações eleitorais foram para candidatos de vários partidos: PSDB, PT, PSDC, PV, PMDB, PSC, DEM, PROS, PTB, PSB, PRB E PP. Receberam dinheiro desse grupo de 16 financiadores relacionados a contas na Suíça as campanhas presidenciais de Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos e Marina Silva (PSB). O comitê de Dilma Rousseff não ganhou recursos diretamente, mas o PT está na lista por meio de diretórios estaduais da legenda.

Ao todo, os tucanos foram os que mais receberam do grupo analisado. Aécio, outros candidatos do PSDB e diretórios do partido foram beneficiados como R$ 2,925 milhões. Já o PT e seus candidatos tiveram R$ 1,505 milhão de doações.

As planilhas do HSBC revelam que 10 dos 16 doadores analisados têm relação com empresas abertas em paraísos fiscais. Há uma preferência por Panamá e Ilhas Virgens Britânicas, mas também aparecem Uruguai e Bahamas.

Dos 16 clientes do HSBC que também foram doadores, dez ainda apareciam com contas abertas e em operação no período 2006/2007, pouco antes de os dados serem vazados.

DOADORES NEGAM PROBLEMAS

Quatorze dos 16 doadores de campanha que aparecem na lista do HSBC suíço disseram que não são donos de contas numeradas, que não estão envolvidos em irregularidades, ou preferiram não comentar o caso. Perguntados sobre provas documentais, nenhum deles apresentou ao GLOBO qualquer registro comprovatório da declaração dessas contas aos organismos oficiais.

O empresário Benjamin Seinbruch disse, por sua assessoria, que: “Todos os bens da família Steinbruch no exterior são legais. E a doação realizada em 2014 foi declarada à Justiça Eleitoral”. Jacks Rabinovich foi procurado através da CSN, mas a empresa informou que não poderia responder por ele.

Cláudio Szajman afirmou, por meio de sua assessoria, que “os ativos no exterior foram e são devidamente declarados à Receita Federal e ao Banco Central”. Francisco Humberto Bezerra enviou nota negando ter sido correntista do HSBC na Suíça. “Nego veementemente que eu tenha ou tenha tido, em qualquer época, conta corrente no banco, seja no Brasil, seja na Suíça”.

A assessoria de Hilda Diruhy Burmaian disse que “toda a vida financeira de Hilda é legal e declarada. Ela desconhece relação com o HSBC, mas reafirma que, se houve, era regular”. Carlos Roberto Massa informou que todos seus bens e valores “foram devidamente declarados aos órgãos competentes”. Paulo Roberto Cesso confirmou que teve conta corrente no HSBC da Suíça no período informado.

Justiça eleitoral

O advogado Miguel Ricardo Gatti Calmon Nogueira da Gama afirmou que nunca teve conta no HSBC do Brasil ou da Suíça. Disse ter mantido somente uma conta no exterior, no Banco do Brasil de Miami, declarada à Receita e ao BC.

Os empresários Alceu Elias Feldmann, Edmundo Rossi Cuppoloni, Roberto Balls Sallouti e Cesar Ades disseram, por suas assessorias, que não comentariam. José Antônio de Magalhães Lins e Gabriel Gananian não retornaram.

Os políticos que receberam dinheiro para suas campanhas em 2014 disseram que o financiamento foi declarado ao TSE.

Fonte: O Globo

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