PIAUÍ: UM ESTADO E SEUS SONHOS DE REDENÇÃO

O governador do Piauí, Wellington Dias (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

O Piauí ainda é um dos Estados mais pobres do Brasil. Apesar dos significativos avanços registrados nos últimos 17 anos, infelizmente não deixamos as posições desconfortáveis que historicamente macularam a imagem desta terra filha do sol do Equador. Ainda figuramos entre os piores Produtos Internos Brutos (PIBs) do país e temos municípios com os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH).

Precisamos reconhecer, óbvio, que muita coisa avançou desde o início do novo século. Diminuímos de forma drástica aquelas cenas de mulheres com baldes de água na cabeça, de sertanejos transportando barris de água em lombos de jumentos e de rurícolas vivendo sob a luz do candeeiro. Mas apesar disso, muita coisa ainda precisa avançar para que o Piauí deixe de figurar entre os Estados mais pobres na Nação.

Ao longo dos anos, promessas de redenção não faltaram. Atualmente, uma das apostas do governo para transformar de vez a realidade de diversas cidades, principalmente no semiárido, é a implantação de gigantescos parques de energia eólica e solar. Os investimentos em lugarejos pobres e pacatos do sertão são vultosos, estimados em bilhões e mais bilhões de reais. A vida nessas regiões vai mudar, sustenta o governo.

Parque de energia eólica em Marcolândia, no sertão do PI (Foto: Divulgação/Governo)

Wellington Dias, no terceiro mandato como governador, fala com orgulho que em algumas cidades onde os parques estão sendo instalados não se encontra mais sequer um quarto de hotel para se hospedar e nem tampouco almoço nos pequenos restaurantes. Tudo lotado! As frentes de trabalho movimentam as cidades e aquecem a economia. A realidade está mudando onde antes não havia boa fontes de renda, garante o governador.

Apesar da empolgação, muitos dizem [e obviamente o governo não é um deles] que após a instalação dos parques as frentes de trabalho se acabam e os trabalhadores, muitos deles de fora, vão embora para suas terras. É claro que os parques ficarão funcionando e para isso alguns empregos devem permanecer, mas há quem diga que o alvoroço da economia pulsante nas cidades será apenas com os trabalhos de instalação.

Se isso é verdade ou não, o tempo nos dirá. Mas o certo é que muitas promessas anunciadas como a redenção em algumas regiões do Piauí acabaram se transformando em frustração. Em meados de 2006, por exemplo, o governo piauiense, já sob o comando do sertanejo Wellington Dias, fez alvoroço com a exploração de níquel no pacato município de Capitão Gervásio Oliveira, no Sul do Piauí.

Pacata cidade de Capitão Gervásio Oliveira viveu sonho (Foto: Reprodução/Internet)

A instalação da gigante mineradora Vale do Rio Doce, a Vale, era apontada como redenção não só para Capitão Gervásio, mas até mesmo para outras cidades da região. Eu ainda morava em Dom Inocêncio, município vizinho dali, quando a notícia corria na redondeza. Falava-se até em aeroporto para aviões da Vale pousarem na região. A exploração do níquel geraria milhares de empregos em toda aquela área seca do Piauí, com investimentos iniciais superiores a 500 milhões de dólares.

Representantes da Vale deram até palestras em escolas das cidades da região falando sobre o impacto que a chegada da empresa causaria. Alunos e professores faziam perguntas para saber sobre a grande mudança que estaria por acontecer. Passados mais de 10 anos, nada mudou na região. A transformação regional que a Vale traria não se concretizou e a redenção prometida naqueles rincões ressequidos nunca virou realidade.

Lula e Wellington lançam programa do Biodiesel no Piauí em 2005 (Foto: Ricardo Stuckert)

Em 2005, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) veio a Canto do Buriti, também no semiárido, lançar o Programa Nacional do Biodiesel. O uso da mamona, planta cultivada no sertão, como matéria-prima do combustível renovável, transformaria a região. Com isso, milhares de piauienses mudariam de vida cultivando o "petróleo verde", que seria comprado a preço de ouro e representaria a redenção de muitos sertanejos. Mais de 10 anos se passaram e a revolução da mamona fracassou.

Agora, estamos diante de uma nova aposta de redenção. Não podemos ser pessimistas, mas não custa nada duvidar da nova “revolução” anunciada aos quatro ventos. Devemos acreditar, sim, mas também devemos agir como “gatos escaldados”. Esperamos que a geração das energias eólica e solar no Piauí, tão reverberada pelo governo, não entre para a história como entraram as promessas da mamona e do níquel. Acreditai-vos, mas desconfiai-vos.

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