MAIS POVO, MENOS POLÍTICA

Em meio à reuniões em gabinetes e badalados atos políticos na capital, o piauiense simples quase nunca é protagonista (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

A política é essencial na vida em sociedade. Não apenas a política partidária em si, mas também as outras formas de política. No entanto, tratarei aqui especificamente da política partidária. É notório que nesse período pré-eleitoral, é ela que domina as rodas de conversas, as manchetes na imprensa e os debates nos parlamentos e demais espaços de poder. Isso, de certo modo, é compreensível e até positivo.

O grande problema é que temos avançado para um contexto de intensas discussões políticas onde, na grande maioria das vezes, o povo é um mero coadjuvante. As brigas e debates em tribunas de parlamentos nem sempre têm o povo como foco principal. Os eventos políticos badalados também não. As reuniões a portas fechadas menos ainda. O que temos visto é a exclusão daquele que é protagonista do processo.

No Piauí, não é diferente. Enquanto uma parcela da classe política se digladia pelo poder, tem muito piauiense esquecido por quem deveria lhe dar atenção. Não falo aqui apenas do governo ou só da oposição, eu falo dos agentes políticos. É claro que numa pré-campanha os partidos precisam discutir formação de chapas, alianças e uma penca de outras coisas. Isso é inerente ao processo político. No entanto, não se pode esquecer que a política se faz para as pessoas.

O Piauí é um estado que abriga uma gente de face luminosa. Uma terra de sertanejos trabalhadores, de comerciantes que acordam cedo para abrirem o próprio comércio, de quilombolas que ainda precisam de melhores condições de vida em suas comunidades, de motoristas que transportam passageiros de uma cidade a outra, de quebradeiras de coco e tantos outros que estão distantes dos interesses daqueles que bradam em tribunas, que fazem discursos bonitos ou que realizam megaeventos só para políticos.

Quando abrimos os jornais, portais, quando ouvimos o rádio ou vemos televisão, nos deparamos com um monte de matérias sobre chapinha, chapão, traição, briga por essa ou aquela vaga, empréstimos, cargos, influência de partido A ou B, etc. E sobre as necessidades dos piauienses que vivem sem água potável, sem saneamento, sem estradas lá nos rincões do nosso Estado? Ninguém quer brigar por eles? Nós da imprensa [e faço aqui a mea-culpa] não nos interessamos pelas pautas deles?

Num Piauí extenso, carente e de diferentes realidades, o povo precisa ser encarado como protagonista (Foto: Gustavo Almeida/PoliticaDinamica.com)

No Piauí, a celeuma sobre a vaga de vice-governador na chapa governista começou a se desenrolar ainda no final de 2016, dois anos antes da eleição. E a cobiça por esse espaço é maior porque já está em jogo a perspectiva de poder para 2022. Enquanto isso, o rurícola que levanta cedo para cuidar da roça lá em Acauã ou na necessitada Fartura do Piauí segue fora das discussões, como se nem mesmo existisse para quem transita engravatado nos corredores do poder pensando apenas em cargos e na própria ascensão política. Não generalizo!

Vivemos numa época em que se preza mais por reunir lideranças em atos meramente políticos para demonstrar força e poder do que andar pelas brenhas do estado para conhecer de perto aqueles que, verdadeiramente, são a cara desta terra filha do sol do Equador. Enquanto eventos badalados dominam a cena política, tem muita dona de casa lavando roupa em beiras de riacho nas cidades do interior, tem muitos piauienses que vão embora da terra natal por falta de oportunidades no lugar onde nasceram.

Mas apesar disso, as redes sociais dos políticos estão cheias de fotos de reuniões com lideranças, audiências com ministros, jantares em bons restaurantes, discursos em tribunas, etc. A atividade política, obviamente, tem em sua essência algumas dessas características. No entanto, não podemos aceitar que ela caminhe para um rumo onde prevalece tão somente a demonstração de poder entre os próprios agentes públicos.

O povo tem que ser colocado no circuito! Ele não precisa estar nas reuniões dos gabinetes gelados e nem nos badalados eventos políticos, mas precisa estar no seu lugar de protagonista. Se o povo é o poder, não se pode discutir o poder sem o povo.

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