CHAPA, CHAPINHA, CHAPÃO E ‘CHAU POVO’

Desde 2016, preocupação passou a ser a eleição de 2018 (Foto: Reprodução/Internet)

Quem vai ser o vice na chapa majoritária? Vai ter chapão? A chapinha vai sair? Quais partidos terão vaga na chapa? Se você é minimamente ligado nos acontecimentos políticos do Piauí, certamente ouviu algum tipo de notícia ou discussão em torno dessas perguntas nos últimos meses. Na verdade, desde 2017 essa celeuma envolvendo composições político-partidárias para as eleições de outubro deste ano tem dominado a imprensa que cobre política e sido o assunto principal nas rodas de conversa dos próprios políticos do nosso Estado.

Se tem uma inauguração, o assunto é a chapa. Se tem um aniversário de político, o assunto é a chapa. Nas entrevistas, o assunto é a chapa. Nós da imprensa [faço aqui a mea-culpa] também somos responsáveis por dar tanto espaço para esse arranca-rabo de partidos que buscam presença nas chapas. Mas, ainda que a imprensa não desse tanto espaço, todos nós sabemos que nos bastidores e nas reuniões internas dos políticos o tema é sempre esse. Passadas as eleições de 2016, essa busca sedenta por espaço visando 2018 logo começou.

Essa pendenga, ressalte-se, acontece sobremaneira no lado governista, que detém a máquina capaz de atrair e segurar aqueles que não conseguem viver longe do poder. Vivemos num Estado que enfrenta uma infinidade de problemas e que nunca conseguiu superar de verdade o atraso histórico que nos coloca na condição de coitadinhos perante outras unidades da Federação. Quis o destino [na verdade nem foi o destino] que justamente em 2018, no ano eleitoral, o Piauí vivesse um dos momentos administrativos mais difíceis. Mas nem por isso a política, e principalmente a politicagem, foi colocada em segundo plano.

A violência assusta do litoral ao sertão, os índices de analfabetismo nos envergonham Brasil afora, obras estruturantes estão paradas ou andam em ritmo de tartaruga, professores reclamam de condições precárias, alunos sem transporte escolar, policiais insatisfeitos, cofinanciamentos em atraso, terceirizados sem receber e trabalhadores substitutos há meses sem ver a cor dos seus salários. Mas diante de tudo isso, a pauta principal é a chapa, a chapinha, o chapão. E o mais grave: a maioria dos que brigam por estes espaços não o faz pensando um segundo sequer no povo. É meramente política e sede de poder.

A essa altura, nenhum político analisa se o cidadão com quem ele está "negociando" a participação na chapa será o melhor para o Estado, se ele se mostra capaz de atender aos anseios da população. O importante é tão somente estar numa chapa que lhe garanta votos, não importando o que pensa ou deixa de pensar o povo que sofre com a omissão do poder público. Não interessa se o partido “A” tem integrantes fichas sujas ou de caráter duvidoso, o que importa é que esse partido puxe votos para garantir a vitória na eleição.

No Piauí, a disputa pela vaga de vice-governador, para alguns, já mira a eleição de 2022, numa clara demonstração de que o que menos importa é o trabalho, a dedicação às causas do povo e a resolutividade dos problemas do Estado. Certas figuras que pleiteiam esse espaço ainda não deram uma entrevista falando sobre como será sua atuação como vice, como pretende contribuir com a gestão ou de que forma vai ajudar o titular a administrar caso venha a ficar com a vaga. Isso não é discutido! A quem cabe dar esse espaço, também não parece importar essas respostas. O que é importa são os dividendos eleitorais.

Não se trata aqui de condenar articulações, pois é óbvio que partidos e agentes políticos, sobretudo em ano eleitoral, têm que se movimentar visando composições para a eleição. Isso é inerente à política. O que se condena aqui é o exacerbamento de negociatas e conchavos eleitoreiros em total detrimento dos graves problemas que o povo enfrenta. Vivenciamos no Piauí um momento onde boa parte dos representantes do povo só se reúne nos gabinetes para tratar de política, como se os problemas do Estado estivessem de férias esperando a eleição passar. É um tempo de chapa, chapinha, chapão e, infelizmente, "chau povo".

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