A ARTE DE FALAR EGUAGEM

Eduardo, filho do presidente Jair Bolsonaro (Foto: Fátima Meira/Estadão Conteúdo)

O assunto mais comentado desde a sexta-feira (1º) no Brasil foi, sem dúvida, a morte do pequeno Arthur Araújo Lula da Silva, de 7 anos, neto do ex-presidente Lula (PT). Depois de anunciado o passamento da criança, a defesa de Lula pediu autorização à Justiça para que ele pudesse ir ao velório compartilhar sua dor com familiares e se despedir do neto.

Antes mesmo que a juíza da Vara de Execuções Penais tomasse uma decisão sobre o pleito de Lula, veio à tona uma grande discussão em torno da liberação do petista. Num país sério e, principalmente, de gente séria, uma ocasião tão dolorosa para um avô que acabara de perder o neto não deveria ganhar as proporções que ganhou. E o pior: da forma que ganhou.

Nas redes sociais, onde todo tipo de gente se acha no direito de falar o que bem quer, logo surgiram manifestações extremamente desprovidas de humanidade, carregadas de insensibilidade e bastante escassas de amor. Pessoas sem o mínimo de discernimento misturaram cruelmente posicionamentos políticos com a dor indescritível de uma morte.

Um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foi uma das dessas pessoas. Na sanha incessante de atacar Lula, menosprezou a dor do petista e classificou como "absurdo" cogitar a liberação dele para ir ao velório do neto, entendendo que a ida “só deixa o larápio em voga posando de coitado”.

A postagem foi apenas mais uma protagonizada pelos filhos do presidente, que têm se comportado nas redes sociais como verdadeiras "fábricas de produzir eguagens". Até aqui, os maiores desconfortos causados ao atual governo, legitimamente eleito nas urnas pela maioria, tem sido justamente as asneiras ditas em entrevistas ou em posts nas redes sociais.

Enquanto esses "garotos" do presidente não entenderem que o comportamento adotado está ficando cada vez mais ridículo, a gestão de Bolsonaro, repito, eleito democraticamente pela vontade da maioria, não navegará em águas tranquilas. A postagem sobre a ida de Lula ao velório do neto, uma criança de apenas 7 anos, reforça o quão mesquinha e desumana é a visão desse rapaz que, além da posição de filho do presidente, é também deputado federal.

Está mais do que na hora de haver um basta em tanta bobeira reverberada. A grande maioria dos mais de 57 milhões de brasileiros que elegeram Bolsonaro espera por um governo que realize, que cumpra promessas de campanha e não por uma gestão marcada pelas picuinhas, pela constante intriga política e pela sede insistente de provocar os adversários.

O ex-presidente Lula e o seu neto Arthur (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Lula já está preso, pagando pelos crimes a ele atribuídos e pelos quais foi condenado pela Justiça. Cada cidadão é livre para gostar ou não gostar do petista, bem como também o é para gostar ou não de Bolsonaro. Nesse ponto, entendo que ninguém deve ser julgado por qualquer uma das escolhas. O que não se pode é viver para o ataque, para a crítica, para a provocação e o desrespeito. É preciso manter vivo um coração que também saiba amar.

A presença de Lula no velório do neto é uma questão de sensibilidade humana, além, claro, de estar prevista na legislação brasileira. Num país com tantas mazelas e atrasos históricos, é inadmissível que alguém se preocupe em fazer postagem condenando a ida de um avô à despedida do neto. O Brasil precisa produzir riquezas e melhorar a vida das pessoas. Da produção e disseminação de eguagens nosso povo já está de saco cheio.

Comente aqui