​Civilização Estafada

São tempos de desintegração do bucólico, do contemplativo, da sutileza e do ficar sem fazer nada. Quanta coisa boa eu fiz quando não tinha nada para fazer, era o momento das grandes ideias ocuparem espaço na mente e perturbarem o espírito inquieto daqueles que entendem que a vida mais do que simples nascer é um acontecer.

Vivemos um período da humanidade onde o ideal de cobrança, de exigência, superou os limites de crescimento humano dando ênfase a uma realidade competitiva e manipuladora das relações humanas. São tempos em que a vaidade, o orgulho e a necessidade de se sentir superior ganharam novos contornos, a própria natural competição pela vida, tornou-se competição pela anulação da vida. A satisfação não é a própria satisfação, mas a insatisfação do outro, para que o mesmo se sentindo menor busque o “vencedor” quase que num pedido de clemência.

Sei que todos esses contextos sempre existiram na humanidade, mas a força com que o desumano se estabelece nos dias de hoje é assustador. Intolerantes e preconceituosos se organizam politicamente e em nome de uma suposta cruel tradição matam, humilham, perseguem e disseminam ódio contra vidas que são acusadas pelo “crime” de viver.

Num círculo de mutilação coletiva, o ser humano abandona o respirar, o sentir, o pensar e o contemplar. Parece até que esquecemos que a morte é fato, perdemos a humildade de aprender com as nossas próprias limitações. Sinto saudade das tardes sonhadas, das noites onde o amor ganhava força com a contemplação da lua e das estrelas e o cair do sono era o afago de Deus para que o novo dia fosse o despertar de uma nova oportunidade. A harmonia da vida sempre foi o encontro do homem com ele mesmo, neste encontro aquela conversa simples com Deus sem as formalidades impostas, sem o medo, revelava a grande amizade da humanidade.

Vivemos mesmo é o tempo do massacre do sensível, onde todas as ações levam os indivíduos a entrar em contradição com sua natural condição de ser feliz. Cedemos lugar ao individualismo, no hedonismo e ao ser egocêntrico. A mentira se banalizou, a honestidade de pensamento e a coerência com o interior transformado em palavras não se traduziu em ações. Falamos coisas bonitas, legais e interessantes, mas não somos. Minhas palavras não são de desilusão total, tem uma geração vindo aí cheia de vida, querendo ser amada, educada, disposta a sonhar, lutar e realizar um mundo melhor, mas não podemos jogar sobre os ombros do futuro o peso da decepção e das frustrações que carregamos dentro da gente. Amar o próximo, eis o grande recado, proclamado por muitos e vivido por poucos, amar o próximo sempre foi, é e sempre será a grande solução para a humanidade. 

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