"A JUSTIÇA É HIPÓCRITA"

AUTORIDADE NO ASSUNTO

(foto: Jailson Soares / PoliticaDinamica.com)

Com a autoridade de quem já coordenou uma dúzia de campanha majoritárias do Partido dos Trabalhadores no Piauí, a senadora da República, Regina Sousa disparou: a Justiça Eleitoral é hipócrita. Não poupou, advogados, juízes, desembargadores nem ministros. Em evento na sede da OAB-PI, a senadora defendeu o financiamento público das campanhas eleitorais porque, na verdade ela já acontece.

“Defendo o financiamento público. Até porque o dinheiro que financia hoje as campanhas é dinheiro público. Está mais do que provado. É dinheiro público financiando as campanhas de forma enviesada”, declarou Regina a uma platéia de políticos e autoridades jurídicas. E seguiu afirmando que a Justiça Eleitoral é conivente com a corrupção: “usar o fundo partidário seria mais fácil para fiscalizar, e não apresentar as prestações de contas hipócritas que se apresenta na Justiça Eleitoral, que finge que acredita”.

CORAGEM OU MAIS HIPOCRISIA?

(foto: Jailson Soares / PoliticaDinamica.com)

Em certo momento, as palavras de Regina pareciam um desabafo. Em outros, uma fala calculada, com a missão de tornar turvo o entendimento e a crítica. Segundo Regina Sousa a roubalheira é geral. Mas apenas seu PT tem sido julgado pelos erros. Na visão da petista, o partido do qual faz parte é praticamente um mártir. “O problema é que há um direcionamento para pegar um partido, que é o PT. Então pegaram o PT, acabou! Tá tudo ótimo, tá tudo bem, agora tá tudo corajoso, agora”, indignou-se. Na visão de Regina, ou são todos culpados, ou todos inocentes. Os crimes e ilegalidades de um partido se justificam pelos crimes e ilegalidades cometidos por outros. Justiça, ideologia e responsabilidade que se lasquem. 

CONFISSÃO

A senadora da República estava muito à vontade para discorrer sobre como acontecem o financiamento de campanha por meio de dinheiro originado de obras superfaturadas. “Financiamento se dá pelo superfaturamento, e não é só na Petrobras. Se fosse se investigar todas as obras desse país, dificilmente iria escapar uma em que não tivesse superfaturamento. O cara [empresário] sabe que vai doar, sabe que vai ser ‘achacado’ para doar, e alguém, ingenuamente vai achar que ele vai tirar do patrimônio dele, da família dele, para doar?”, disse Regina, num tom esclarecedor.

CONFORMADOS OU CÚMPLICES?

Na mesa em que a senadora falava estavam representantes do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), da Associação dos Magistrados do Piauí, do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e da Procuradoria Estadual. Estavam vereadores, deputados e juízes. Na platéia, mais advogados. Ninguém perguntou à senadora se aquilo já havia acontecido no Piauí, se ela já tinha participado de algo parecido. Nenhuma expressão de indignação. 

Ela chamou a Justiça de hipócrita, revelou que empresas superfaturam obras desde sempre e o Piauí não escapa a esta regra. E a reação de todas as autoridades ali foi um aplauso ao fim do discurso dela. Será a imunidade parlamentar? Certamente não é apenas a Justiça que é hipócrita, como afirmou Regina.

NO FINAL, O ÁLIBI

Em algum momento de seu discurso, Regina provavelmente percebeu que ia longe demais, dando detalhes do desvio criminoso de recursos públicos para financiamento de campanhas eleitorais. É o que pode justificar a pérola que encerrou esse trecho de sua fala: “É difícil numa obra de 100 milhões [de reais] se ele [o empresário] botar 110 [milhões de reais], você achar que tem superfaturamento. É muito difícil. É muito difícil você saber. Aí aquele dinheiro ele guarda, para doar na época da eleição”, escapuliu Regina.

SUPERFATURAMENTO ETERNO

Regina Sousa decretou a eternidade do superfaturamento em obras públicas. Ela, que minutos antes condenou a “ingenuidade” de quem acredita na honestidade dos empresários, disse, em seguida “temos ’n’ escândalos, tudo em função para financiar eleição. Dificilmente é para botar no bolso. É pra financiar campanha”. Já que é "muito difícil" identificar R$ 10 milhões superfaturados em uma obra que custa R$ 100 milhões (já incluído o lucro da empresa), pela lógica de Regina, se esses 10% não forem utilizados em campanha, também não deixariam de existir. Ou ela acredita que se um empresário pode adicionar 10% de lucro à sua obra, ele não vai fazê-lo? Não é tão ingênua.

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